A arte brasileira tem no mínimo dois grandes artistas “costureiros”  ou “bordadeiros”, o Artur Bispo do Rosário e o Leonílson. O primeiro passou a maior parte da vida em um manicômio no Rio de Janeiro. Desfiava a roupa de cama e o uniforme da instituição para transformar o fio obtido em obras destinadas, segundo ele, a ordenar o mundo. Bispo deu um xeque mate na história da arte contemporânea educada ao descer ao último círculo do inferno social, um hospício, e ali realizar o que realizou. Leonílson é uma voz intimista e poética, um testemunho da subjetividade construído de forma dolorida em pedaços de tecido bordado e peças de roupa expostas ao mundo como metáforas da fragilidade do próprio corpo e da existência. Morreu vitimado pela Aids com pouco mais de trinta anos de idade.

Da obra de ambos pode-se dizer que são atravessadas pela idéia de que “arte é uma garantia de sanidade” frase que Bourgeois, outra artista que também dedicou parte da obra aos tecidos e à costura, eternizou em escrita frágil sobre fundo cor de rosa em 2000. Nenhum material estabelece tamanha proximidade com o corpo quanto o tecido, e poucos objetos estão tão intimamente relacionados com a expressão da subjetividade de quem usa como a roupa. É natural que para as sensibilidades artísticas roupas e tecidos operem como mediadoras da memória e das experiências. Na obra de Leonílson eles são depositários de muitas delas.

Uma grande retrospectiva da obra de Leonílson, chamada Sob o peso dos meus amores, chega a Porto Alegre nessa quinta feira, dia 14 de março, na Fundação Iberê Camargo e fica por lá até 03 de junho de 2012.

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