LONDRES MANTÉM SINGULARIDADE COMO OPÇÃO PARA A MODA

LONDRES MANTÉM SINGULARIDADE COMO OPÇÃO PARA A MODA

27 de setembro de 2016 Moda 0

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Sobre a cena criativa de Londres, um amigo formalizou uma ideia que me parece perfeita: o que se faz lá, não importa o tamanho, tem 10 vezes mais chance de se tornar global. Vale para a música pop e vale para a moda, ele afirmou.

Pois é neste universo no qual as manifestações – não necessariamente sustentadas por grandes negócios, mas por mentes inquietas –  podem ganhar o mundo, que a moda ali se desenvolve ou, pelo menos, é apresentada. No caso, na semana encerrada dia 20 de setembro.

Sobre tendências, o que se pode dizer é que o planeta delas é um planeta pequeno. Um paradoxo, eu sei, já que chegam até a loja do lado da sua casa. Mas dá para entender, não é? Assim temos listras, cores, têxteis abusados, misturas, esporte e as atenções estão nas mangas e ombros, como em Nova York. Da tradição local saem os vestidos lânguidos, como que pinçados de um quadro Pré-Rafaelita, e os florais miudinhos saltando das páginas de Jane Austen e das prateleiras da veterana Liberty para a passarela. Contudo, por aqui, o lucro é passar direto pelas tendências e ir para o front das coisas, onde as ideias fermentam e ainda causam algum estranhamento.

listras

cores

TÊXTEIS ABUSADOS

MISTURAS

SPORTY

MANGAS E OMBROS

NEO PRÉ-REFAELITA

FLORAL MIÚDO

Separamos três criadores que se posicionam nesta zona nervosa do front e que valem ser notados.

J W Anderson

Com uma coleção de formas amplas e cores solares desfazendo-se em sedutores tie dyes, o desfile do confiante Anderson, tal qual os anteriores, aconteceu arranjado como um corredor estreito com as roupas tocando o pessoal da primeira fila. Essa proximidade saiu ampliada pelo approach bem mais feminino, vestidos alongados, ótimas saias, ora cortadas em espiral ora em formato bolha e belas malhas rústicas.

Christopher Kane

Com peças aparentemente saídas de um brechó, como se estivéssemos em tempos de racionamento severo (e não deveríamos estar?), o designer criou imagens de um luxo estranho, regado a lurex e pedraria. Há muito lances inventivos, particularmente no cruzamento de estampas e materiais, e há muitos elementos retrôs em jogo, como plissados, transparências e linhas diagonais na modelagem. Bonito o uso de metais sustentando recortes para compor superfícies. Kane pode não estar no volume máximo, mas ainda assim está acima da média.

Mary Katrantzou

Algo que a comunicação da marca definiu (e a mídia adotou) como uma fusão entre op art e a antiga arte pop grega. De fato, esta coleção só poderia mesmo ter saído de uma mistura peculiar. Há muito não via o ilusionismo que marcou o início do trabalho dela na passarela. Para quem gosta, ele está de volta. Sempre experimentando, mesmo quando retoma o passado, está aí outra designer que mantém viva a singularidade da cena inglesa.

Finalizando

Para finalizar, fica registrado: quem estranhou a coleção invernosa da Burberry é bom lembrar que está tudo certo. A Burberry é uma das adeptas do see now, buy now e colocou na passarela o que é para ser vendido agora, bem a tempo de encarar o frio outono inglês.

Mais um finalmente nessa conversa fica por conta da inevitável reflexão sobre semanas de moda e a utilidade delas. A impressão é que nem a anunciada “revolução” do calendário promovida pela venda imediata reúne as condições necessárias para renovar a  fórmula. Neste formato, resistirão até quando?

Hora de repensar a receita?

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