M: o vampiro ataca outra vez
Nos últimos dias de férias, imobilizado por um pé que encontrou uma pedra no caminho, ficamos eu, o computador, um saco de gelo, e uma cópia do Vampiro de Dusseldorf do Fritz Lang, confinados no segundo andar de uma casa de praia. Em princípio, nada mais inadequado para dias de verão. Entretanto, o que é bom de verdade impõe a própria atmosfera. Logo nas primeiras cenas, a câmara acompanha a mãe que aguarda a filha voltar da escola. Ela consulta o relógio, arranja o prato sobre a mesa, chama pelo nome da garota na janela e só tem uma ausência bruta na outra ponta destes apelos domésticos. Também logo no começo, quando a paranóia se instala na cidade, um homem que é abordado por uma garotinha é confundido com o assassino. Quando ele se vira para o cara que o interpela, olha para cima, onde está a câmara, e o ângulo inusitado torna-o pequeno e indefeso. É meio caricato, mas é original ali. E melhor realizado que as mil vezes em que foi copiado depois. Só na quarta noite cheguei ao momento em que os bandidos improvisam um julgamento para o assassino e o filme envereda por uma impagável inversão de valores. Está lá, in natura, por exemplo, as trocas promovidas por Scorcese em Infiltrados. O filme ecoa em tantos outros posteriores a ele que a lista seria longa. É tão bom que sempre há algo a dizer a respeito dele. Mesmo que acrescente pouco ao que já foi dito, tá valendo.
Compartilhe a sua opinião!
Seu e-mail não ficara público. Campos requeridos estão marcados com *