Mapplethorpe: contraventor e artista maior
Quase que invariavelmente, a primeira vez que entramos em contato com as fotografias de Robert Mapplethorpe ficamos diante de corpo masculino nu, com todos os seus atributos expostos e com a aura de escândalo que cercou a vida e as imagens criadas por ele nos anos 1980. Aura que resiste perversamente até os dias de hoje. Mapplethorpe é sim o fotografo que pôs em cena o pênis masculino, retratou o indivíduo homossexual sem disfarces e borrou as fronteira entre pornografia, vida e arte. Mas a obra dele é maior que este importante recorte e é nessa tecla que batem duas grandes exposições simultâneas batizadas de Robert Mapplethorpe: The Perfect Medium, que ficam até 31 de julho em dois museus, o J. Paul Getty Museum e o Los Angeles County Museum of Art (LACMA), ambos em Los Angeles.
As mostras estão claramente destinadas a cumprir essa função, vamos dizer assim, educativa: tirar Mapplethorpe da rota que conduz o legado dele em direção ao nicho do artista contraventor, associado à sexualidade exacerbada, para retratá-lo como um grande fotógrafo clássico.
A tarefa, apesar das imagens de apelo homoerótico explícito e das incursões pela pornografia terem gerado sucessivas reações de conservadores – com exposições canceladas e ataques ferozes na imprensa ao longo do tempo -, não é das mais difíceis. Ele foi realmente um fotografo rigoroso quanto à luz e à composição, mais experimental nos temas que nas formas de retratar. Não é à toa que, além dos nus, flores minuciosamente iluminadas formam o segundo e mais importante assunto dele, seguidas pelos retratos. Mapplethorpe retratou vários de seus contemporâneos famosos, entre eles Susan Sarandon, Yoko Ono, Isabela Rossellini e Patti Smith, todos em preto e branco e em enquadramentos sóbrios.
Prostituto, pornógrafo e artista maior, as contradições vividas abertamente o acompanharam até a morte prematura, vitimado pela Aids aos 44 anos.
Foi namorado de Patti Smith aos 19 e permaneceram amigos incondicionais para sempre. Sobre ele, ela anotou:
“Com Robert aprendi que a contradição é muitas vezes o caminho mais nítido para a verdade”.
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