MARGIELA E O INCENDIÁRIO GALLIANO
O que é preciso para reacender a fagulha que mantém vivo o interesse pela moda? Ao que tudo indica, juntar marca belga de história enigmática com estilista talentoso e controverso.
A Martin Margiela é um fenômeno difícil de explicar. A começar pelo criador original, quase nunca visto e do qual pouco se sabe. E justo neste habitat em que permanecer exposto à luz inclemente é condição de sobrevivência!
John Galliano cumpriu este requisito durante longos anos. Promoveu-se à condição de mito excêntrico e egocêntrico sob iluminação feérica até cair fulminado por comentários preconceituosos proferidos em um barzinho obscuro de Paris. (Os deuses são mesmo caprichosos!)
Contratá-lo como diretor criativo foi um ato polêmico da Margiela. Metido em um jaleco e com declarações de uma modéstia inesperada — seguidas de um grande e oportuno silêncio — Galliano deixou os críticos em banho-maria e recuperou espaço para voltar ao que sabe fazer.
O ocaso dele coincide com o da própria moda como fenômeno relevante. A moda, sejamos francos, dorme um sono letárgico em algum canto por aí enquanto consumimos comodities sem graça e de procedência duvidosa.
Outro ingrediente que parece ter sido crucial para tocar fogo no tédio deste apartamento, além dos já citados acima, foi acender o fósforo em um ambiente que tem seguro contra a apatia criativa. É na coleção de alta costura da Maison Margiela que Galliano voltou a ser o piromaníaco do passado.
A despeito de pertencer a uma geração anterior, é dele a lucidez sobre o que significam as roupas nos tempos midiáticos. Conhecedor do poder delas e das imagens, ele se concentrou nas formas e nos materiais avaliando-os e selecionando-os de acordo com a maneira como são registrados e transmitidos pelas câmeras dos celulares e instagrans da vida.
Nada de celebridades millenials vestindo roupas caducas na passarela, nada de estratégias alheias ao que interessa. Toca fogo na coisa e solta meninas raivosas em correria desabalada vestindo apenas roupas singulares. Nem feias, nem bonitas, nem comerciais nem conceituais (eca) apenas roupas deste tempo e, espero, do futuro dele. Não peço desculpas pelo otimismo. Muito menos pelo palavrão: que desfile da porra!
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