Mau-humor fashion

Mau-humor fashion

26 de março de 2018 Colunas, Moda, Opinião 0

Richard Quinn

Em um futuro próximo, a moda não será mais o que é hoje. Quando estivermos plenamente instalados na sua nova conformação, as máquinas farão tudo por nós. É o que sugerem estudos respeitáveis. Para quem se indaga onde vai estar a capacidade da moda de produzir singularidades, os mesmos estudos sugerem que a automação, paradoxalmente, é o que vai conduzi-la até uma nova era: a era da customização em massa.

Criação no futuro será atribuição de algorítimo. Só vamos pensar no assunto na hora de adaptar as bases disponíveis em um menu — potencialmente infinito — ao nosso próprio corpo e gosto.

Sem os limites materiais e produtivos da velha manufatura, seremos servidos por downloads ultra rápidos. Como em um passe de mágica, impressoras 3D irão materializar todos os gucccis e balenciagas que quisermos ter. Ou inventar. Finalmente a promessa de que um dia seríamos todos criadores vai se concretizar. Como bônus, vamos nos vestir cada um como bem entender.

A possibilidade de imprimir roupas incríveis, em minutos, em uma cabine no metrô, quem sabe no supermercado, parece bastante excitante. Mas tanta coisa pode acontecer. Quem sabe dispensaremos  toda e qualquer materialidade. Nossos corpos modificados serão como telas, mudaremos de aparência a cada passo, a cada variação de humor.

E veja bem: a julgar pelo andar da carruagem, quando chegar este tempo nem teremos mais lojas, nem shoppings, nem estado. Apenas grandes empresas transnacionais zelando pelas cabines de impressão, pelos nossos corpos telas e por todos nós. Tem vantagens nisso, sem Estado estamos livres de toda ditadura estética, não corremos o risco de sermos coagidos a nos vestir todos iguais, como na China de Mao.

Quando a utopia máxima da moda se consumar, oferecendo  acesso irrestrito e democrático aos meios de se expressar livremente através das roupas, impressas ou virtuais, vamos todos soltar a imaginação e mandar ver no figurino. Vai ser uma loucura geral.

Para quem se pergunta onde vão estar designers, assistentes, modelistas, a turma da costura, do arremate, do conserto das máquinas, os fornecedores de tecido, linha e alfinete, o pessoal da equipe de vendas, toda aquela gente do passado, provavelmente eles vão estar muito bem.  As zaras do futuro, proprietárias das cabines mágicas e dos nossos corpos-tela, satisfeitas com os bons lucros,  com certeza irão garantir que nós, os pioneiros da coisa toda, sejamos recompensados pelos serviços prestados um dia e tenhamos acesso a viagens, diversão, educação e aos downloads das roupas incríveis. Se não for o caso, certamente vamos dar um jeito. Sempre fomos tão  criativos.

Não vejo a hora desse futuro chegar.

 

 

 

 

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