Mercado e a representação negra
Ligue a televisão e note: quantos negros e negras aparecem em propagandas? Donas de casa, crianças carentes e jogadores de futebol não contam. Ainda que esse nicho seja a maior parte da população do país (50,7% segundo o mais recente censo do IBGE), parece que a grande mídia recusa-se a reconhecê-los como consumidores. Se não querem representá-los por motivações éticas, que ao menos façam por razões mercadológicas.
O grande motor do mercado do Brasil nos últimos anos vem sendo a Classe C, cujos 114 milhões de brasileiros que a compõem devem movimentar R$1,35 trilhão só nesse ano. Desse número, 80% são negros. Ainda assim, nunca vemos propagandas direcionadas a esse público, retratado como um contingente de consumidores com poder aquisitivo. A cientista social Ângela Figueiredo, da Universidade Federal da Bahia, complementa: “Há poucos avanços quando buscamos ver a imagem de negros associada a produtos de bens de posse e de status”.
No universo da moda, a questão intensifica-se. Como diz uma frase anônima que andou circulando pela internet, reproduzida em vários veículos, “our society does not like black people as much as it loves black culture”. O resultado é frequentemente nos depararmos com modelos brancos ostentando roupas e acessórios de origem na cultura negra nas passarelas e capas de revistas. Quando questionadas sobre essas questões, várias marcas de luxo alegam que elas precisam retratar seu público consumidor nas campanhas. O que eles escolhem ignorar é o fato de que a população negra gasta mais em artigos de luxo. Um estudo recente apontou que mesmo com menor renda, esse nicho gasta 28% a mais nesses bens comparado à população branca. Ou seja, eles querem comprar. Mas também querem ser representados.
Algumas marcas já deram os primeiros passos, como a Dior, que nesse ano escolheu Rihanna como sua primeira garota-propaganda negra. Ou a Balmain com os irmãos Cabral. Mas ainda falta muito no caminho para um espaço igualitário de representação na mídia.
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