Moda & Arte – Arte & Moda

Moda & Arte – Arte & Moda

14 de fevereiro de 2012 Arte, Moda, Opinião 0

Nada justifica a idéia de que a moda se metamorfoseia em arte apenas por ser exibida em galerias e museus. Da mesma forma um vestido costurado pelo Leonílson não se transforma em moda por ser um vestido, nem Yayoi Kusama é uma criadora de estampas por encher o planeta de polka dots. Porque isso aconteceria não se explica mas porque o status de arte é algo tão almejado se explica. A aura de arte atenua a feição comercial de qualquer outra atividade. Na moda, além de expandir as possibilidades de expressão, turbina o valor cultural da marca com reflexos diretos no valor comercial. O ganho da modernidade é que nada impede que as coisas se revertam, mas não como regra, o que nos faria regredir no tempo, e sim como possibilidade.

Quando Duchamp instalou um mictório no espaço da arte, lá no começo do século XX, a fronteira entre o que é ou não arte se tornou a cada dia mais imprecisa. Desde que os costureiros saíram do anomimato no final do século XIX, culminando em trabalhos como o de Rei kawakubo, Martin Margiela e Chalayan, a moda não parou de ampliar seu vocabulário nem de almejar uma parte desse território.

 

Mesmo que haja uma dilatação das fronteiras entre elas e o escambo seja crescente, em algum momento a inevitabilidade do limite de campo vai valer para as duas atividades. É verdade que para estabelecer o que é uma coisa e outra a delimitação de espaço onde elas acontecem já não é mais suficiente, nem o formato de apresentação e nem mesmo o objeto. Conhecendo o histórico de cada área, a forma como evoluem e quais são as questões em que estão envolvidas fica mais fácil não cair na armadilha.

É fato que a moda engloba sentidos e explora formas que não abarcava antes. Nada disso, entretanto exclui o caráter projetual, a função, a destinação comercial e todas as outras qualidades que a inscrevem no campo do design. Se para efeito de definição estas características isoladas não mais funcionam, já que a arte reivindica o direito de eventualmente se apossar de todas elas, quando reunidas ajudam a clarear o assunto.

Que as áreas se comuniquem, se atravessem e se transformem é um ganho irreversível da contemporaneidade, inútil é querer forçar uma transmigração de corpos. Tenho dúvidas se essa é realmente uma questão, ou se ela emerge apenas como consequência da ingenuidade e do oportunismo de mercado.

Uma não é mais, nem outra é menos, nem os territórios delas são estanques, mas que são manifestações distintas me parece meio óbvio.

Por curiosidade: a artista Yayoi Kusama, que aparece na imagem de abertura é a próxima a participar de um projeto de produtos para a Louis Vuitton. É provável que as bolsas e outro mimos sejam disputados a tapas, atinjam preços extrordinários, virem item de colecionador, e nem por isso deixarão de ser o que são. Outras imagens: A Fonte, de Marcel Duchamp , 1917. Vestido de Rei kawakubo. Logo Vuitton já com polka dots de Kusama.

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eduardo:

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