Moda e identidade por Karen Van Godtsenhoven
Leia na íntegra entrevista com Karen Van Godtsenhoven, curadora do MoMu, publicada na Revista Donna do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, no último domingo. Karen está no Brasil para participar da 10 edição do Colóquio de Moda e do Moda fora do Eixo, realizado por Radar Inteligência e Projetos de moda com participação de Aspatricias.
Fale um pouco sobre a importância da valorização da identidade da moda local.
No atual mercado globalizado de moda, pode soar muito estranho falar sobre identidade local ou nacional, isso porque com a internet tudo está disponível com apenas um clique. Mesmo assim, imagem é tudo na moda, então, se um país com uma identidade cultural forte consegue traduzir isto para uma identidade de moda, pode melhorar a economia. Como arte aplicada, a moda traz resultados para o comércio e também para o turismo (Paris, por exemplo). As raízes desta identidade cultural são encontradas na arte e no artesanato, na cultura do país. É importante não ser apenas comercial, mas mostrar uma visão forte e identidade própria, porque é isto que fica com as pessoas e consumidores, e sempre trará melhores resultados no longo prazo. Não há como ser bom em tudo, nem se deve ser igual a outros países, mas focar em alguns poucos pontos fortes e criar sua identidade de moda com base neles (exemplo: sapatos, acessórios, peças artesanais exclusivas). No longo prazo, uma identidade de moda específica pode resultar em uma economia mais forte através da indústria criativa e turística, direcionada para uma reapreciação de recursos locais, costumes culturais e profissões que fazem do mundo um lugar muito mais interessante!
Como é o dia a dia de uma curadora de moda?
Muito corrido! Hoje, eu recebi visitantes de uma universidade da Itália, escrevi textos para o panfleto de visitantes na exposição do museu, organizei uma sessão de fotos para o novo catálogo, revisei textos já escritos e fiz uma lista de todos os itens emprestados da nova exposição para a companhia de seguros. Entre isto tudo, eu entrei em contato por telefone com casas de moda para providenciar o transporte das peças emprestadas e conversei com colegas de trabalho. Meus dias sempre incluem muita comunicação: diretamente com colegas e imprensa, mas também telefonemas e e-mails para casas de moda e lidar com as questões administrativas. Além disso, também escrevo bastante para as exposições, artigos acadêmicos e outros textos menores. Algumas vezes é difícil conseguir concentrar, então eu deixo para escrever melhor a noite em casa.
Como definiria teu estilo pessoal?
Esta é uma pergunta bem difícil. Meu estilo tem evoluído com o passar dos anos, claro, mas o principal é incluir bastante peças masculinas (se é que hoje em dia ainda se pode dizer isso), como blazers, calças, cardigãs, sapatos Oxford, misturados com peças mais femininas como saias plissadas e sempre muito couro. Não passo um dia sem usar algo feito em couro. Também sou uma grande fã do Azzedine Alaïa, em contraste com as peças mais masculinas.
O que você conhece da moda brasileira?! Qual a sua interpretação do estilo local?
Eu conheço um pouco da minha última visita ao Rio e São Paulo: Eu vi muitas coisas diferentes, com certeza não é um estilo uniforme. Vi muita moda praia e esportiva, mas também peças mais artesanais e únicas com ótimos acessórios. Também sei que ainda não vi muito e por isso estou curiosa para conhecer mais.
Tem alguma peça de marca brasileira no seu guarda roupa? Qual e por quê?
Tenho uma saia plissada da Osklen. Eu amo saias plissadas e, como estava no Brasil, parecia uma consequência lógica! Eu adoraria ter mais itens. Tragam-me o couro (risos).
Qual sugestão você daria a um jovem criador que quer conquistar um espaço no mercado?
Tente fazer algo que você ainda não tenha visto e que seja uma visão totalmente particular. E mantenha esta visão em tudo que você faz. Certifique-se que suas roupas, styling, material gráfico, o showroom ou loja mostrem a sua visão. Também tente ser ético em tudo que faz, seja honesto e paciente com a produção e com as pessoas que trabalham para você.
Para onde você acredita que os designers devam olhar para criar?
Não olhar para outros designers de moda, principalmente. Já existe muito do mesmo. Você pode olhar para arte, arquitetura, ler romances/livros ou se aventurar na natureza. Ao mesmo tempo também admiro a Rei Kawakubo que diz que ela não precisa ver exposições ou a arte de outras pessoas para criar, porque a inspiração dela vem de dentro. Eu acredito que alguém pode se inspirar em muitas coisas tanto de fora quando de dentro de si mesmo.
Entrevista Karen concedida a Patricia Pontalti e Eduardo Motta – matéria na revista Donna | Zero Hora | Porto Alegre – colaboração Ramon Steffen
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