Moda que já nasce velha

Moda que já nasce velha

17 de setembro de 2014 Moda, Opinião 0

hoodbyair

O jornalista e crítico francês, Patrice Bollon, certa vez escreveu que “O poder de uma moda se mede por sua novidade e pelo “escândalo” que provoca: qualquer grande moda deve ser, em parte, inesperada, deve se colocar na contramão da sensibilidade dominante. Uma moda cujo conteúdo e modalidades poderiam ser inteiramente previstos, não seria uma moda: estaria morta antes de nascer”.

Foi assim com os zazous, os punks, os skinheads, os hippies e tantos outros movimentos que inspiram a moda até hoje. Uma conjunção de elementos que encontraram na moda uma visualidade para os indivíduos destas épocas. Hoje, por outro lado, a distância entre o que a moda oferece e a juventude se atenua. Os fenômenos que envolvem o vestuário tem origem mercadológica, caso do já superado hipster. O que dizer então do normcore? Nascido na moda, ele não tem mostrado alcance longe dela. Não que haja falta de interesse pela moda, pelo contrário, são as estruturas em que ela acontece e se locomove/opera (seguindo o mercado/estatísticas de venda) que não seduz ou provoca. A geração atual acaba por ter que procurar fora dela as maneiras de criar as suas próprias modas. O individualismo e a expressão singular de cada um é a regra. É o DIY versão 2.1

Recentemente, em Nova York, os desfiles pouco trouxeram de novidades. Entra estação e sai estação e se vê apenas uma ressignificação de elementos que venderam bem em estações anteriores ou que certamente venderão para os clientes já consolidados de cada marca na próxima. Há uma crise econômica assombrando todos os setores, isto é fato. Também é fato que geralmente em períodos de crise surgem as propostas mais criativas que redesenham os novos tempos adequando-se a mentalidade dos períodos.

 A necessidade da venda rápida, da velocidade incessante de produção e da renovação de orientações acaba por matar a moda antes dela nascer. Não há o tempo de maturação, em que uma moda possa ser absorvida, entendida e adotada. Isso contribui para a constante reciclagem de referências e elementos em desfiles, por exemplo.

Outro exemplo da defasagem do sistema em que a moda opera, em relação à realidade geracional, é que apenas um pequeno número de marcas desfilaram propostas masculinas em Nova York. Estas marcas porém, foram as que mais se arriscaram e geraram compartilhamentos nas redes sociais. Como já citei em outro texto, a moda masculina é a que mais tem crescido economicamente. Este assunto tem permeado os sites e publicações especializadas. Homens jovens estão buscando novas formas de expressar suas individualidades através da moda.  Estatísticas mostram uma realidade mas, baseada em outras, a moda opera devagar, tímida, morrendo aos poucos apesar da pressa aparente. Ou devido a ela?

O sistema da moda atrai menos os jovens. Na tentativa de retomar o interesse deles, de acompanhá-los, o mercado erra ao optar por ações seguras e pela repetição do que já sabe fazer bem. O marketing das empresas faz a sua parte e divulga, do outro lado, as pessoas não compartilham nem nas suas páginas pessoais nem em seu guarda roupa. O resultado: quase nada dessa produção entra no campo de relevância para o espírito desse tempo.

Imagem: Hood by Air Spring 2015.

Sobre o autor

admin:

0 Comments

Compartilhe a sua opinião!

Seu e-mail não ficara público. Campos requeridos estão marcados com *

Deixe um comentário