Notas sobre moda, feiura e cidades

Notas sobre moda, feiura e cidades

28 de novembro de 2013 Moda, Opinião 0

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Contra o pano de fundo do recente passado anticapitalista, e a poucos passos do Mausoléu de Lenin, é no mínimo constrangedor topar com uma gigantíssima ação promocional de marca  na Praça Vermelha de Moscou. O superlativo do adjetivo, no caso, não é força de expressão. Com muitos metros de comprimento e outros tantos de altura o baú de luxo da Vuitton ocupou tanto espaço que atropelou a sensibilidade pública dos habitantes da cidade. Resultado: terá de sair de lá.

A Praça Vermelha, como outras de cidades importantes ao redor do planeta, não é exatamente desprovida de um passado comprometedor. Além das paradas militares de ontem e de hoje, a praça já recebeu a Dior, que instalou por lá um grande pavilhão metálico para uma exposição da marca. Pistas de patinação e palcos para shows variados costumam comprometer o cenário de cartão postal atentando contra a “pureza” do conjunto arquitetônico. Com este histórico, dá para dimensionar o tamanho da bagagem da Vuitton, depositada bem ali, no coração da cidade russa. Grande a ponto de superar todas as outras ações já feitas no local e incomodar de verdade.

Recentemente, na Antuérpia, deparei-me com totens enormes espalhados pela cidade comemorando os 50 anos da Academia. Eram containers empilhados servindo de suporte para imagens de moda da geração de ouro da moda Made in Belgium. Mesmo dividindo espaço com a Catedral local pareciam melhor dimensionados para o espaço urbano. E tratava-se de uma ação afirmativa de identidade cultural. Cartazes gigantescos em Paris e outras interferências urbanas, promovidas por marcas interessadas em marcar presença em espaços públicos, são mesmo duvidosas. Quem lucra com elas afinal de contas? O que lhes dá o direito de se posicionar entre nosso olhar e a paisagem? A discussão deveria ir mais longe, ou melhor, mais perto. E nem precisaria ter como objeto coisas tão grandes. Castigadas por uma ocupação selvagem, na forma de placas, cartazes e outdoors distribuídos de forma caótica, o drama visual das feias cidades brasileiras não chega às primeiras páginas dos jornais. Mas bem que merecia.

 

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eduardo:

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