O Desafio do Ensino de Moda
Acompanhando o ritmo da sociedade, a moda progressivamente se articula como um sistema comercial. Em decorrência, os conhecimentos de business tornam-se ainda mais necessários. No entanto, há uma dissonância entre as escolas de moda e o mercado. De acordo com uma pesquisa global realizada pelo Business of Fashion, apenas 58% dos alunos de moda se dizem satisfeitos com o ensino de negócios que recebem na graduação. Os estudantes acreditam que suas formações atuais não os preparam para a realidade do mercado e que noções práticas de negócios de moda devem ser parte do currículo de um profissional da área.
O motivo para que esse escopo seja deixado de lado no plano de ensino é dar lugar para a criatividade. Instituições como a prestigiada Academia Real de Belas Artes da Antuérpia acreditam que noções de negócios limitam a criatividade, e que essas habilidades devem ser adquiridas posteriormente através de experiências de trabalho. A graduação seria o momento de desenvolver as visões de design de moda dos alunos.
Com visões tão dissonantes, fica instalado o conflito. Louise Wilson que dirigiu a Saint Martins até o seu falecimento (2014) imprimia uma direção inclinada para o aspecto criativo e os resultados são considerados excelentes, considerando que boa parcela dos melhores designers da atualidade passaram por lá.O mesmo vale para a Escola da Antuérpia cujo diretor Walter van Beirendonck privilegia esta estratégia.
O próprio editor chefe do Business of Fashion, Imran Amed, certa vez fez um relato de encontro com Louise Wilson no qual as posições divergentes dos dois a respeito do assunto teriam ficado evidentes.
Frente a realidade atual, com a moda mais assentada como sistema comercial é previsível que haja maior demanda por conhecimentos de business na hora de compor os currículos. No entanto nada é assim tão simples. Não há motivos para que se deixe de lado a orientação a respeito de negócios no sistema de ensino como também é preciso que as escolas ofereçam aos alunos as condições necessárias para que eles amadureçam expressões autorais, caso desejem.
A pergunta se o ensino de moda deve ser voltado para o mercado ou para o exercício da criatividade não tem resposta fácil. O desafio que fica para as escolas é buscar o equilíbrio. De nada adianta um profissional extremamente criativo que não consegue inserir-se no mercado. Bem como um profissional estritamente formado para o sistema comercial não irá agregar nenhuma novidade ao cenário da moda. Pensando nisso, algumas instituições já se encaminham para um ensino que possa conciliar as duas áreas. Escolas como a Parsons The New School of Design e o Intituto Polimoda passaram a incluir disciplinas de business no currículo. A London College of Fashion inaugurou nesse ano a escola de Fashion Business. Pensar em um ensino que combine como funciona o mercado com a visão criativa dos alunos é pensar em uma moda inteligente. Quando o ensino de moda conseguir harmonizar as habilidades criativas e de negócios, o mercado de moda no futuro será muito mais interessante.
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