O entendimento geral sobre design em alguns ambientes da moda industrial brasileira é o de que ele seria algo meramente formal que se acrescenta à receita do bolo. Isso feito, teríamos o produto com design, ou seja provido de algum traço maneirista que o diferencia de outros. Deixa-se de lado o que a concepção de um produto implica de predisposições históricas, de observação do ambiente cultural onde ele deve acontecer e mesmo o sentido de singularidade autoral se perde no ar. Infelizmente, este design redentor, abordado como um ingrediente listável na ficha técnica do produto, não existe. O design do outro (leia-se cópia) ou o design alienígena (a mesma coisa considerando a entrada dele em um ambiente estranho) é outra modalidade que é só uma oportunidade, nem sempre lucrativa e nunca inofensiva para algum dos lados. Também é comum ver o design tratado como um raio de esclarecimento, capaz de redimir nossa produção de objetos dos seus muitos males, nos salvar da mediocridade da cópia, da falta de expressão e do inferno das vendas ruins. Contudo, foram anos de negligencia com a inteligência dos processos criativos, e raros investimentos nessa área, que nos trouxeram até aqui. A adesão às práticas do design é um começo, e não a coisa pronta. Tem algo de fé cega nessa crença irracional de que só Ele pode nos salvar e, enquanto isso, de tanto se usar o nome Dele em vão, a palavra se desgasta, enjoa, perde o sentido e parece mesmo é entrar em extinção.

Imagem: René Magritte Le Deux Mystere