O nome de cada um

O nome de cada um

23 de novembro de 2015 Colunas, Crônicas, Opinião 1

Esmirna nasceu em 12 de Novembro, no interior do Brasil. É uma filha do carnaval. Seus pais decidiram colocar este nome, em homenagem a uma tia-avó da mãe de Esmirna, cujo nome havia sido dado pelo pai, um negociante de tecidos que viajava o mundo atrás das melhores matérias-primas. O que os pais de Esmirna não sabem é que, o nome deriva de uma cidade, hoje turca, chamada Izmir, com quase 3 milhões de habitantes. Ela já foi palco de diversas guerras e foi, até o começo do século XX, uma das cidades mais cosmopolitas do mundo. Já pertenceu aos gregos, aos persas e novamente aos gregos. Foi absorvida pelo império romano, depois o bizantino, até ser conquistada pelos turcos. No início do século XX, foi cedida aos gregos novamente, mas logo reconquistada pelos turcos, em um dos maiores incêndios já registrados pela história, mas não o primeiro em grande escala na cidade. Depois da Guerra de Independência Turca, a população grega migrou para a Grécia. Atualmente, a população de Esmirna é predominantemente turca.

Toda esta movimentação, dá a cidade uma característica culturalmente mutante, que afeta, de certa forma, a identidade dela. Assim, como a cidade de Esmirna, nossa Esmirna sofre com mudanças ao longo de sua existência. Apesar de ter nascido do sexo feminino, Esmirna nunca se interessou pelas atividades ‘de menina’, nem tampouco com as roupas ‘de menina’ e, depois de entrar na puberdade e começar a ter mais noção de seu corpo, tampouco com este ela se identificou. Hoje, Esmirna se chama Alexandre, o trocadilho com o nome do grande monarca é proposital. Diferente de seus pais, Esmirna estudou seu nome e descobriu que foi no período do reinado de Alexandre, o Grande, que Esmirna foi restabelecida e atingiu o seu ápice, crescendo para se tornar uma das mais bonitas cidades da época.

Nosso nome é a primeira roupagem que vestimos, é a afirmação da identidade e diz muito sobre quem somos.

Ele carrega nosso legado, nossas memórias e faz parte da nossa história. É o nome que nos diferencia e faz com que sejamos lembrados. Não é à toa que durante a alfabetização começamos aprendendo a ler e escrever nosso próprio nome. Este conjunto de letras que nos identifica se torna crucial para estabelecer as nossas relações em sociedade. Da mesma forma, saber o nome de uma pessoa, mostra que você se importa com ela.

Por estes motivos e tantos outros é que a troca de nome é um momento superimportante na vida de uma pessoa transgênera e/ou transexual, como Alexandre, por exemplo. Os nomes, dotados de significados generificadores, já definem, desde sua adoção, a qual gênero a pessoa pertence e insere o individuo na longa lista de estereótipos de cada um. Ao recebermos um nome feminino ao nascimento, espera-se que abracemos o gênero feminino ao longo da vida. Quando o nome não condiz com a identidade de gênero de um indivíduo, a troca dele acaba por se tornar um dos fatores mais importantes da transição.

Pensando nesse poder generificador dos nomes é que, muitas celebridades tem optado por registrar seus filhos e filhas com nomes neutros, como é o caso de Drew Barrymore, Heidi Klum, Jessica Simpson, Blake Lively e muitas outras. A Time Magazine também publicou matéria dizendo que 2015 será o ano dos nomes de gênero neutro para bebês. Estes nomes neutros permitem que posteriormente a criança possa, por conta própria, definir sua identidade de gênero e não se sinta pressionada a conformar-se com estereótipos que podem vir a ser restritivos. Alguns exemplos de nomes de gênero neutro são, Ariel, Alex, Cris, Dagmar, Darcy e muitos outros. Há listas na internet que contemplam apenas estes tipo de nome. A desconstrução dos estereótipos de gênero defendidas por algumas marcas de moda, por comportamentos de jovens consumidores e também por futuros pais e mães são pequenas/grandes ações que podemos fazer para melhorar as sociedades em que vivemos. Em tempos conservadores e pautados pelo retrocesso que história queremos contar com nossos nomes?

A história de Alexandre está apenas começando, Esmirna ficou para trás, assim como a cidade que hoje também já tem outro nome.

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