O QUE DIZER DO DFB FESTIVAL?

O QUE DIZER DO DFB FESTIVAL?

18 de maio de 2018 Moda 0

Modelos na Oficna de Moda e Beleza SENACLAB

Montação, cultura, talento e jornalismo de nicho no mega evento autoral.

É complicado e é insuficiente escrever exclusivamente sobre moda para falar do Dragão. Movido tanto por desfiles quanto por atrações musicais, gastronomia, bares, livros, mostra de design, feira de moda, palestras e conversas sobre cultura criativa e educação, o festival que acontece em Fortaleza, no Ceará, é uma espécie de arena da diversidade, mais próximo de uma grande festa popular que do apartheid que ronda as semanas de moda.

É verdade que a moda é o eixo das atenções, mas o termo diversidade aqui pode ser aplicado, sem malabarismos semânticos, a todos os sentidos que ele possa ter, os novos e os de sempre. Além da variedade de atrações, o evento também é palco para a diversidade de gêneros. A horda de recém-chegadxs e veteranxs às dores e delícias de ser o que é aproveita para dar vazão. E, neste caso, amigxs, é montação generalizada mesmo.

Sob todos os aspectos, é uma delícia a experiência com o Dragão. De tudo um pouco que é tipo de gente circula por lá. Tanto a abastada quanto a desprovida sociedade local tem acesso e envia representantes – da ala conservadora e  da liberal. Nos ambientes convivem empresários, modelos, mães de modelos, chefs, fotógrafos, turistas e um sem fim de meninos e meninas da última geração classificada pelo sistema que (acha) que define quem é quem e consome o que. Do Nordeste ou não, contra ou a favor, quem pode comparece e aproveita.

No que diz respeito ao espaço, estamos falando de uma dessas obras saídas da infinita capacidade dos nossos gestores públicos de dar forma concreta ao surreal. É nas áreas externas e internas de um terminal marítimo onde navios não aportam, e só se chega de carro ou outro transporte aéreo ou terrestre especial que a coisa se desenrola.

A esta altura já não importa se foi mesmo a má gestão que gerou o bicho de concreto, metal, granito e vidro. Empossado como território momentâneo da liberdade, o belo edifício encravado entre o porto e a praia se redime e cumpre um extraordinário papel abrigando a festa democrática. Circulam nela o gestor metódico e o criador delirante, a socialite e a rendeira, a primeira dama do Estado e a Karol Conka. Mesmo as contradições nesta momentânea suspensão das intolerâncias fecham com o caráter plural do evento. Voltado para os criadores emergentes, o Dragão desfila uma fast fashion. Acolhe a turma (polêmica) que recebe pela opinião favorável, mas privilegia o jornalismo especializado. No controle deste estratégico governo de coalizão, os organizadores não perdem o fio da meada e colocam a impecável tecnologia de eventos a serviço da cultura regional, dos criadores jovens, dos artesãos, artesãs e das boas ideias. É algo sem paralelo nesta pátria mãe pouco gentil com os filhos dela.

O Dragão consumou um modelo na vanguarda entre seus pares. Além de tocar calor na frieza das fashion weeks, reverbera noutras paragens.

Para começar, na sua 19ª edição já contribuiu para sedimentar o trabalho de vários criadores. Tão diversos como Almerinda Maria, responsável por coleções requintadas feitas com renda; e o extraordinário David Lee, que realiza uma perfeita junção de linguagens e recursos locais com a moda de apelo universal. A lista não é pequena. Olhar para a moda feita no Brasil hoje e enxergar nela vitalidade e tesão passa obrigatoriamente pelo Dragão.

Quem vai lá é confrontado com a moda também em estado de experimentação, e não apenas com a moda já estabelecida e embalada para vender. Não duvide: a autenticidade compensa com sobra qualquer oscilação no desfile de um jovem criador. E não é só assim, com a coragem de experimentar que se educa a técnica e a apreciação? É como disse o amigo perspicaz: “Não é igual ao modernismo, que todo mundo já sabe que é bom”.

O Dragão também levanta a poeira do jornalismo especializado. É um evento que tem a moda como eixo central, e isso justifica o jornalismo de nicho, mas é válido considerar que a expansão de conteúdos e formatos demanda por uma cobertura igualmente plural. O jornalismo de moda que comparece ao terminal não deveria também acessar tudo aquilo a que a moda e o Dragão hoje se conectam?

A mais importante reflexão que o festival põe em pauta talvez seja o modelo em si. Primeiro a escancarar de fato as portas para outras manifestações, e a conceber esta abertura como um projeto,  o Dragão não deve demorar a influenciar outras semanas de moda.

É esperar para ver.

 

 

 

 

Sobre o autor

admin:

0 Comments

Compartilhe a sua opinião!

Seu e-mail não ficara público. Campos requeridos estão marcados com *

Deixe um comentário