O que é que a moda nos entrega?
Além de produtos desejáveis, o que é que a moda entrega ao mundo, hoje? Duas coisas me vem imediatamente à cabeça. A primeira delas é a força da suposta opinião pessoal casada com as técnicas publicitárias. Os principais protagonistas desta associação? Blogs comerciais e departamentos de marketing. A segunda é a possibilidade de adquirir um look muito similar ao da grife, mais barato, via web ou na loja fast fashion.
Estes dois fenômenos representam melhor que outros o caráter da moda atual e o que não está alinhado por eles vê o espaço encolher. O formato de abordagem definido pelo blog comercial dá o tom de boa parte da comunicação da moda. O ritmo acelerado da moda rápida impacta as práticas dos arranjos produtivos e comerciais, torna ainda menor o tempo de obsolescência do produto e, de certa forma, encurta os possíveis significados de uma peça de roupa ou acessório ao escancarar sua reprodutibilidade.
O modelo do blog comercial confrontou os pressupostos formais e os códigos éticos que davam sustentação ao jornalismo tradicional de moda. Neste caso, podemos falar de liberdade de opinião, da criação de um tipo de serviço de informação de agilidade incomparável, mediado pela internet, que seguramente agrada e facilita a vida da consumidora, mas também do principio duvidoso da compra e venda da crítica favorável.
A moda rápida pôs em risco a autoria e o sistema de valor baseado na diferenciação, estabelecido em torno das marcas de design, e acirrou a disputa por preços baixos. Neste caso podemos falar do acesso democrático, sem precedentes na história, à ideia e aos produtos de moda, da geração de milhões de postos de trabalho ao redor do planeta, mas também de banalização e do fantasma do trabalho escravo.
Imaginar que retomar valores do passado poderiam colocar a moda em trilhos menos ambíguos, ou seja, advogar pela extinção do formato do blog comercial e pela desaceleração do ritmo que faz a moda contemporânea andar, entretanto, não leva a lugar algum. A fila anda, como se diz. No caso, andou nesta direção, e não dá para negar o que é fato. Se não há uma conclusão ideal dessa história, também não é em vão pensar no assunto, pois há aí uma condição desejável: quem estiver ciente dos lados dos paradoxos que a moda entrega, nos seus enunciados e práticas, pode avaliar qual deles tem mais peso moral, caso a caso. Imagino que esta condição é que viabiliza o que é chamado de consumo consciente. E ela vale para todo tipo de escolha, seja da informação de moda que absorvemos, seja dos objetos de moda que decidimos comprar e usar. Como ela pressupõe alguma forma de educação, e esta é uma mercadoria escassa no mercado, sugiro recorrer à sabedoria popular.
Sabedoria popular relacionada:
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Não caia no conto vigário.
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