A edição deste ano do Festival D’Images revelou uma obra-prima da sensibilidade. Premiado como Melhor Filme Sobre Arte, o português “Enxoval”, de Pedro Macedo, mostra o trabalho da artista plástica Joana Vasconcelos sobre uma antiga tradição do interior de Portugal.

No vilarejo de Nisa, as meninas, já por volta dos seis anos de idade, são introduzidas no mundo dos bordados. A partir de então, tem início a preparação de um enxoval. Diferentes técnicas são empregadas, todas elas manuais e de um tempo em que os trabalhos demandavam tempo e atenção. O resultado é de beleza incomparável. Interessante notar que o enxoval não costumava ter como destino a própria artesã. Esta, quando recém-casada, vendia-o, e assim angariava fundos para a aquisição da primeira casa da nova família.

O filme revela que o fio que prende o trabalho das artesãs ao presente é frágil e corre o risco de romper-se. É que as meninas de Nisa já não querem mais aprender as técnicas de suas avós e não há a quem passar a tradição. Assim, o filme ganha dimensão de um registro de esperança pelo delicado e primoroso trabalho dessas senhoras portuguesas, um alento para que o fio da tradição não se rompa, mas para que ele se estenda, fortaleça e perdure. Neste mesmo espírito, Joana criou, à época da gravação do filme, a instalação “Valquíria Enxoval”, com a participação das artesãs de Nisa.

Enxoval não é simplesmente um filme sobre Joana Vasconcelos ou uma pesquisa antropológica sobre as técnicas de artesanato de Nisa. É um documentário sobre contaminações. Tempo, espaço e identidade são os principais eixos do filme.

Assista o trailer abaixo

ENXOVAL / THE BOTTOM DRAWER_ TRAILER (ENGLISH SUBTITLES) from FRAMED FILMS PORTFÓLIO on Vimeo.

O trabalho da artista na Bienal de Veneza também foi assunto aqui no blog da Radar.