Quando as roupas nos fazem esquecer a ética

Quando as roupas nos fazem esquecer a ética

9 de setembro de 2015 Colunas, Moda, Opinião 0
worldfactory

Poster da peça “World Factory”, de Zoe Svendsen, na qual o público é desafiado a administrar uma fábrica de roupas na China e entender as implicações éticas e financeiras que circundam esse sistema.

 

A Inditex, holding dona da Zara, anunciou que seu faturamento foi de $109 bilhões – o que provavelmente explica porque seu acionista majoritário é o segundo homem mais rico do mundo. Voltando um pouco no tempo, há alguns meses a Zara foi autuada pelo Ministério do Trabalho e Emprego por descumprir medidas de melhorias nas condições de trabalho de suas oficinas aqui no Brasil. Essas medidas foram implementadas porque há quatro anos a marca já havia sido punida por condições de trabalho análogas às de escravidão. A situação também já aconteceu em oficinas na Argentina e em Bangladesh.

Em notas publicadas em respostas às acusações, as respostas de Zara são sempre “não sabíamos”. Isso porque o modelo de negócios adotado pela marca é o de terceirizar, passar a responsabilidade adiante e, claro, diminuir os gastos. No entanto, em algum momento deve-se suspeitar do porquê de preços tão baixos a serem investidos pela marca. Afinal, tem muita gente pagando essa conta, como nos mostra duramente o documentário “The True Cost”.

Mas a grande questão que fica é: porque ainda compramos lá? E, aparentemente, não compramos pouco. Em um contexto que tanto se fala em consumo consciente e em responsabilidade de compra, fica difícil de entender. Mas ao olhar as roupas e as etiquetas, fica fácil.

É através desse sistema de terceirização que se tornou possível democratizar as roupas, em certa medida. A Zara está atenta às tão valorizadas tendências de moda e sabe que tem que estar sempre atualizada – por isso suas mais de 2 mil lojas espalhadas pelo mundo recebem novos produtos duas vezes por semana em um sistema pioneiro e extremamente eficiente. Ela oferece o que se vê na mídia por preços mais modestos. O consumidor que está atento às novidades da moda, mas não pode pagar por grandes labels de luxo compra na Zara. O consumidor que gosta de iniciativas independentes mas não pode pagar – porque sabemos que esses produtos são bem mais caros que uma fast-fashion – compra na Zara. O consumidor encontra-se na encruzilhada: roupas éticas ou bonitas e baratas?

O esperto setor de marketing das empresas busca amenizar a imagem das marcas (ou seria nossa culpa?) e se volta para outras causas, como a sustentabilidade. Além das sacolas de papel biodegradável, várias peças da Zara são feitas de algodão orgânico. As etiquetas das peças de algodão da coleção Verão 2016 que estão nas araras contam com a frase “Esse algodão foi cultivado somente por produtos naturais, que respeitam você e o meio-ambiente”. Logo acima lê-se “feito em Bangladesh”.

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