Radar na exposição de Azzedine Alaïa, em Londres
No final do ano passado, a Alta-costura perdeu um de seus maiores talentos e o mundo da moda, mais do que um estilista, perdeu o último dos costureiros. Azzedine Alaïa se foi, mas deixou como última palavra a exposição “Azzedine Alaïa: The Couturier”, em cartaz até o dia 7 de outubro no Design Museum, em Londres. No que diz respeito ao circuito expositivo do setor, esta é uma das melhores curadorias (e montagem) dos últimos tempos.
É dele o nome citado quando o assunto são as grandes criações dos anos 80. Na década dos excessos, ele manteve-se na vanguarda com o mínimo, uma receita arriscada e tão rigorosa que só um mestre do ofício poderia tê-la sustentado. Para Alaïa o corpo e a roupa eram uma coisa só. Tecido, volume e forma eram os instrumentos dele para dar potencia máxima ao desenho do corpo feminino. Não tinha espaço para a decoração que ilude o olhar no trabalho dele. Mais do que um estilista, ele foi um escultor. Como seu antecessor direto, Cristóbal Balenciaga, deu vida a vestidos de estruturas inimagináveis, que ele costurava pessoalmente e à mão, recusando-se a ceder às pressões das semanas de moda, clientes e investidores apressados.
Antes de morrer, o pequeno (em estatura física) gênio tunisiano já planejava a exposição, ao lado do amigo curador Mark Wilson. Este envolvimento pessoal ajuda a explicar a excepcional qualidade da mostra. Como último projeto de Alaïa, a exposição traz peças meticulosamente selecionadas por ele, algumas reproduzidas especialmente para a mostra, cobrindo um percurso que vai das primeiras coleções de Alta-costura, nos anos 80, até a última, produzida em 2017. Apesar de não ter sido concebida como uma retrospectiva, a mostra documenta toda a vida e carreira de Alaïa e acabou por se tornar um tributo.
Há algo de grandioso e também de melancólico nesta mostra. Diante desse magnífico acervo, desse conjunto de roupas construídas por um virtuose, há uma pergunta que emerge: será que o sentido de perfeição que atravessa a obra de Alaia sobrevive a estes tempos de roupa banal e consumo rápido?
Eduardo Motta visitou a exposição essa semana e fez belíssimos registros que você confere abaixo.
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