Em Paris: realidade em excesso na Fundação Cartier
Aqui em Paris, fomos à Fundação Cartier ver a exposição do artista Ron Mueck, australiano que adotou Londres para viver e a escultura e o hiper-realismo como forma de expressão. A mostra está prestes a encerrar, mas ainda faz sucesso e filas enormes ao longo do Boulevard Raspail. Uma vez dentro do prédio transparente, projetado pelo Jean Nouvel, a enorme escultura que retrata um casal de idosos debaixo de um guarda sol, fixa, de forma irretocável, a ação do tempo sobre os personagens. Mesmo sob um escrutínio microscópico, eles são exatamente o que são: dois velhos e seus corpos de velhos flagrados em um tipo de contato terno e ao mesmo tempo banal. Ela assentada, ele deitado com a cabeça apoiada sobre a perna dela. O que atrai tanto a nossa atenção começa pela espantosa capacidade do artista de reproduzir cada detalhe da cena.
O virtuosismo técnico captura qualquer um. Seja qual for o background do espectador, quer ele estabeleça as associações com a história da arte que as esculturas de Mueck sugerem ou não, não há como escapar. A escala, sempre alterada para mais ou para menos, é outro ponto crucial na rendição que o artista nos impõem. A reboque vem a identificação, também irreversível, com a “humanidade” das figuras. São pessoas comuns. Sobre elas, Mueck nos dá o direito de exercer um voyuerimo sem reservas. Podemos examiná-las de todos os ângulos, encará-las fixamente e tecer todo tipo de comentário. Entramos neste processo comovidos para sairmos dele com um certo incômodo: realidade em excesso não é algo exatamente fácil de suportar.
São três esculturas novas e seis antigas. A boa notícia é que a mostra deve ir ao Rio e à São Paulo em 2014.
Imagens: Cortesia Hauser & Wirth / Anthony d’Offay, Londres. Photo Thomas Salva / Lumento, 2013.
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