Semana de Paris equilibra a balança fashion
Tentei separar em poucos minutos um grupo de criadores radicais nos desfiles de Paris. Fácil. Como o ambiente não anda muito favorável a experimentalismos revisei minuciosamente as escolhas. Tudo ok. Também me propus selecionar 10 ótimas coleções. Quinze surgiram rapidamente. Como a temporada de desfiles não foi muito entusiasmante revisei também. Quem sabe não estava sendo complacente, não é? Em vão. Paris realmente equilibra a balança. O mínimo que se poderia dizer da moda francesa é que ela é uma sobrevivente tarimbada. E não adianta argumentar que na lista de coleções radicais – Comme des Garçons, Rick Owens, Gareth Pugh, Iris Van Herpen, Alexander McQueen, Yamamoto, Junya Watanabe – três criadores são japoneses, dois são ingleses e um é americano. É para lá que eles vão, afinal de contas. Nem tampouco invalida os elogios o fato de Alexander Wang, outro americano, comandar a Balenciaga, o belga Raf Simons a Dior e o alemão Lagerfeld a Chanel. A verdade é que o poder de atração de Paris – e a capacidade de oferecer respostas a ele – permanece intacto.
A Chanel voltou a fazer barulho. Saiu do supermercado, cenário da última temporada, e encenou uma passeata feminista, oportuna para alguns, oportunista para outros. Dries Van Noten ofereceu um belo espetáculo, Givenchy apresentou-se no volume máximo, Gaultier anunciou a despedida do prét-a-porter, diretores criativos perderam e ganharam cargos, morreu a fundadora da Chloé. Sem acontecimentos espetaculares fora da passarela, como se sabe, uma fashion week não tem o devido apelo. A de Paris embolou-se com uma greve dos aeroviários, coincidiu com o casamento de George Clooney. Foi sucedida, menos de uma semana depois, pelo anúncio de que a marca que carrega o nome do criador mais low profile do planeta, Martin Margiela, acaba de contratar o mais notoriamente indiscreto dele, John Galliano (Nenhum demérito aqui para o talento de Galliano).
Muita técnica sob a aparente despretensão, os volumes e cores bem distribuídas e as referências de estilo tratadas de forma refinada não tiram o frescor das coleções na semana de moda francesa. Pelo contrário. Ainda que muitas das referências se repitam (tem sido assim nos últimos tempos) quase não há aquela sensação de dejá vu que marcou as outras semanas.
Em Paris, a adesão à Era de Aquário, anunciada nas semanas anteriores, tomou forma invejável em Dries Van Noten, Vuitton, Saint Laurent e Chloé. Hand crafted dos mais refinados compareceu na Valentino, na Lanvin, Loewe e em tantos outros. A influência do streetwear ganhou lugar na Kenzo e na Chanel. Do esporte na Balenciaga e na Paco Rabbane A sensualidade é um ingrediente superlativo e safado na Givenchy, em Yamamoto e na Miu Miu. E este é apenas um roteiro básico de referências. Tem mais. Têm ótimos acessórios, sandálias tipo gladiador, bolsas desejáveis e o melhor de tudo: a impressão de que nem tudo, na moda, vai tão mal assim.
A França ainda oferece políticas adequadas para o surgimento de novas marcas, emplaca leis de defesa de Direitos de Propriedade Intelectual para a moda e mantém uma infinidade de ações educacionais para o setor. Se o histórico sozinho não explica a vitalidade, isso com certeza ajuda. Não se trata de fazer uma defesa francófila do fenômeno, são fatos.
Colaboraram: Bárbara Diehl e Ramon Steffen
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