Somewhere
No cinema da Sofia Coppola a vida tem aparência, mas não substância, e ela documenta este vazio de forma cada vez melhor. No seu último filme, a agenda profissional e o sexo banal guiam o personagem, que participa de ambas as coisas com grande frequência e nenhum interesse. Ele dorme como uma criança na frente da televisão, enquanto duas louras fazem uma performance erótica, e literalmente apaga com a cara no meio das pernas de uma garota. Também faz sexo em outras cenas e sempre sem o menor sinal de paixão ou afeto. Nas entrevistas para a imprensa o vazio é recíproco, e não há perguntas nem respostas que valham à pena. A entrada da filha de 11 anos nesta rotina é pretexto para a diretora tratar outro de seus assuntos, a relação pai e filha. Apesar do ambiente liberal, a menina cumpre a risca um roteiro conservador: cozinha para os rapazes se exibe em um ringue de patinação e aparece bem vestida quando a situação pede. Não difere dos personagens femininos que circulam em torno da cama do pai famoso. A certa altura ela é despachada para um acampamento remoto e é tudo que o roteiro lhe reserva. Há delicadeza e proximidade nesta relação entre os dois, que é o que estrutura o filme. Mas não alívio. E não há a menor garantia de que laços existam e serão mantidos. Para a Sofia Copolla, somos até interessantes, mas nos desperdiçamos. E nem ao menos sabemos por quê.
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