Subversões da Forma na Fundação Iberê Camargo
Trabalhos de quatro artistas foram selecionados pelo curador Bernardo Souza para a mostra Subversões da Forma, na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. São eles Daniel Steegmann Mangrané, Erika Verzutti, Luiz Roque e Iberê Camargo.
Estão alinhados, entre outras qualidades, pelo que o curador chamou de “presença escultórica”. Cabe a Mangrané oferecer pistas iniciais da elasticidade dessa presença escultórica ao exigir interações mais intensas que as habituais entre o corpo do visitante e a leitura dos textos aplicados diretamente sobre as paredes. Eles não usam o fundo branco apenas como suporte: grudam-se ao edifício como pele. Quase imperceptíveis à primeira vista, a demanda por nossa presença — proximidade física, ajuste do foco retiniano — torna-se irrecusável se pretendemos seguir adiante.
Algo semelhante ocorre com os filmes de Roque e Mangrané. Estejam eles projetados na parede ou em monitores acionam relações corpóreas. Vide a mimese do bicho-pau (Mangrané) e a figura que indaga a escultura modernista (Roque). Pelo que encenam e pelos artifícios da montagem, são projeções que se tornam quase palpáveis no contexto da mostra.
Essa corporeidade latente é plena potência nas esculturas da Erika Verzutti. No limite entre o que reconhecemos como parte da cultura organizada, e o que ainda não sabemos se pertence inteiramente a ela, elas substanciam o desconhecido e inviabilizam associações e rotas seguras.
A montagem vai outra vez nos convocar fisicamente — como parte atuante do que se desenrola ali — quando, ao fim do trajeto expositivo, um recurso que contradiz o fluxo original da arquitetura do prédio nos obriga a retornar repassando a experiência em sentido inverso. Se até então nossa relação com os objetos dava-se através da visão e da corporeidade real ou imanente das obras, a percepção de que nos movemos, agora, é dominante. Menos direcionados na primeira passagem, na segunda, já com certa objetividade, organizamos nossos deslocamentos estabelecendo direções preferenciais. Neste trânsito rebobinado os nossos e os outros corpos, e não apenas o das obras, tornam-se corpos relacionais absorvidos como movimento naquele sistema de objetos.
Quase que inevitavelmente, em função da sobreposição da ação, somos impelidos a estabelecer conexões que a razão deveria ordenar. Capturados pela carga sensorial que a experiência proporciona, optamos por não fazer. Troppo tardi. Nosso modelo de cognição agora é irremediavelmente outro e torna-se estranhamente prazeroso, deixar-se em estado de suspensão para dar passagem às outras maneiras de digerir o mundo que o curador habilmente sugere.
Subversão da forma permanece em cartaz na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, até dia 06 de janeiro de 2019.
Compartilhe a sua opinião!
Seu e-mail não ficara público. Campos requeridos estão marcados com *