Tempos incertos nas passarelas de Paris
Na semana de moda de Paris, a incerteza quanto a um futuro global provavelmente caótico é a mais clara referência para a criação das coleções masculinas. A expressão dessa incerteza se deu de diversas maneiras, como na exaltação da desordem nas coleções de Thom Browne, Dior Homme e Rick Owens. Por outro lado, houve uma tentativa de neutralização dessas forças nas coleções da Lemaire, Louis Vuitton e Demeulemeester. De modo geral, a semana parisiense é dramática no jogo entre proporções e formas, nos imponentes tons de vermelhos e nas jaquetas enormes e acolchoadas. Fizemos abaixo um extrato do que melhor ocorreu por lá.
A coleção de Thom Browne, apresentada em 3 atos, funcionou como uma aula de modelagem, explorando formatos, silhuetas além de diferentes desenhos e proporções.
A Dior Homme apresentou o desfile HARDIOR. Inspirada na ascensão do movimento clubber e das raves entre as décadas de 70 e 80, a trilha sonora foi hardcore techno. O desfile encerrou com o trabalho de Dan Witz, Mosh Pitz estampado nas peças.
Rick Owens abusou nas jaquetas estufadas. As proporções extremamente artificiais davam a impressão que os modelos estavam indo para a guerra, protegidos por camadas e mais camadas de tecidos, amarrados, fechados e, enfim, protegidos. Uma referência aos tempos que estão por vir.
Quanto às tentativas de apaziguar o clima turbulento influenciado pelo ambiente externo, principalmente político, o “normcore”, termo ressuscitado pela Vogue Hommes, foi extremamente presente. A Vetements abordou os diferentes estereótipos sociais na passarela, em uma coleção que uniu quase literalmente o conceito à matéria. A Lemaire, caracterizada pela funcionalidade das roupas, trouxe novas proporções ao estilo já conhecido.
Demeulemeester apresentou coleção romântica, repleta de laços e chapéus ornamentados com penas. A coleção é marcada pela alfaiataria desconstruída e por uma paleta de cores concentrada no preto e branco, apesar do toque mais colorido experimentado pelo time de designers da marca.
Os holofotes, porém, estavam voltados para a parceria entre a Louis Vuitton e a Supreme. A parceria com a marca cool de streetwear foi uma consequência da percepção da LV sobre o perfil mais jovem de consumidores interessados na marca.
A semana de Paris fechou a temporada masculina europeia e o que se pode resumir é que as marcas estão reagindo ao nossos tempos incertos e sombrios. Seja por declarações pessoais de designers ou pela estética empregada nas coleções, a voz crítica da moda se faz presente e necessária.
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