Um tour pela Bienal de Veneza: esta cidade realmente existe?
A Bienal de Veneza não foi concebida para que você a visite na sua totalidade. Depois de gastarmos três dias inteiros envolvidos na tentativa, concluímos que pelo menos 10 seriam necessários para a tarefa. A não ser que você seja um veneziano, espécime sabidamente raro, ou tenha à disposição os meios para se instalar lá por este tempo luxuoso, desista de antemão da empreitada e contente-se com a parte que lhe couber do Palazzo Enciclopédico, mote e nome da mostra gigantesca. Foi assim que em um dia vimos o que está no Giardini, local que abriga a exposição central e a maioria dos pavilhões das representações nacionais, e em outro o Arsenale, grande mostra com alguns países também representados. No terceiro dia vagamos pela cidade tendo dois eventos paralelos em mente, uma visita à coleção de arte moderna Peggy Guggenheim e outra à Fundação Prada, que abriga a mostra When Attitudes Becomes Form. O que caísse à nossa frente nos trajetos labirínticos da cidade seria lucro. À parte o gigantismo e a horda de turistas, com os quais voce tem que disputar cada precioso centímetro de espaço,vale a pena cada euro gasto, cada minuto e esforço físico. Não apenas a cidade é um dos lugares mais fabulosos do planeta ( será que aquele lugar realmente existe?) como esta edição da Bienal abriga gratas surpresas.
Partindo da idéia do artista Mariano Auriti, que na década de 50 registrou a patente de um museu imaginário para abrigar todo o conhecimento existente, a mostra gira em torno de artistas e da arte que claramente tentam delimitar um universo. Que abrem as portas para o inconsciente afim de dar vazão e expressão aos tormentos da subjetividade. Não é a toa que a delirante cosmogonia do brasileiro Artur Bispo do Rosário está lá. Ou que desenhos assinados pelo próprio Jung abram a grande exposição dos Giardini, maravilhosamente dispostos na rotunda do prédio na mostra central.
Assim como a Bienal é fisicamente impraticável para um indivíduo, também as tentativas de abarcá-la tendem a ser mal sucedidas e reducionistas. Nem é este o objetivo aqui. Desistimos do todo e, contrariando a escala maiúscula da mostra, trazemos imagens de três artistas que trabalham em formatos pequenos. Foi assim, sem alarde, que eles capturaram irremediavelmente nossa atenção. Acima, uma das pinturas hiper realistas, algumas menores que uma folha de papel, de Ellen Altfest. Esta se chama The Hand.
Acima, um dos trabalhos diminutos, retratando pessoas do Oriente Médio usando roupas misturadas com elementos ocidentais de Imran Qreshi.
Pequenas esculturas feitas com fio de metal de Vladimir Peric. O título desta é Glory takes time.
Bichos feitos com capas de câmaras fotográficas, também de Vladimir Peric.
Frases como esta estão espalhadas pelo comércio da cidade.
Por último, fica a dica, o dress code exige sapatos e roupas confortáveis. Esqueça os saltos e mantenha um agasalho sempre à mão. Apesar do calor nestes primeiros dias de outono, à noite esfria e uma chuva repentina pode complicar sua vida. Na babel de línguas e estilos que circulam pela cidade, as orientais com seus sapatos baixos, entre esportivos de cano alto e botas de cano curto, modelagem solta do corpo e tecidos visivelmente agradáveis ao toque, pareciam vestidas de maneira inteligente e elegante para a situação.
De Veneza: Eduardo Motta e Fernanda Daudt
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