Walter Rodrigues, referências e roupas
O fotógrafo alemãoAugust Sander sofreu com o nazismo, atravessou tempos turbulentos, ficou conhecido principalmente pelos retratos e o trabalho dele não exala exatamente alegria ou sensualidade. Acima.
O filme A fita branca, de Michael Haneke, procura a origem do maior crime de ódio do século 20, o Holocausto, e centra sua busca na vida de uma pequena comunidade alemã, muitos anos antes da ascensão de Hitler. Como se vê, não há nada de leve ou glamuroso em nenhuma das duas referências, e foi exatamente a partir delas que o Walter Rodrigues realizou sua coleção de inverno, desfilada no Fashion Rio.
Mas porque raios o Walter que é brasileiro, e se apresenta em plena exuberância tropical do Rio de Janeiro, escolheria algo assim? Em primeiro lugar porque ele tem o direito de fazer como quer. Em segundo porque em ambos os casos a qualidade da referência é superlativa, Sanders e Haneke, cada um na sua área, são grandes. Em terceiro porque está no histórico do Walter esta linha de desenho que não se incomoda em caber dentro do adjetivo discreto. Qualidade rara e à qual o Walter tem sido fiel no seu trajeto de japonismos, formas austeras e cartelas de cores sóbrias.
O desfile em cenário vermelho, com trilha densa, que incluiu a banda electro-medieval Helium Vola, desfia o repertório do estilista de saias fartas e longas, vestidos que não expõem o corpo, camisaria clássica, cardigans e casacos elegantes. Não há curvas sinuosas, nem cores vivas, nem tendências da hora. Percebe-se o eco dos japoneses que o Walter gosta e, antes de tudo, salta aos olhos uma assinatura. No caso, amplificada em suas particularidades de contenção pelo contexto em que acontece. Inviável falar de inadequação, pois essa roupa é bonita e usável.
Imagens do desfile: Agencia Fotosite
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