Abajur

Abajur

12 de novembro de 2010 Arte 0


A mobilização burra e barulhenta pela retirada dos urubus do trabalho do Nuno Ramos desviou a atenção da obra do Cildo Meireles. Mesmo utilizando tração humana para funcionar, e cutucando com força e vara curta o bicho cego do politicamente  correto, ela ficou de fora das discussões que incendiaram a 29° Bienal.

De fato, a primeira impressão  que se tem com a paisagem marítima, uma caravela, cercada de nuvens e gaivotas contra a linha do horizonte é de puro encantamento poético. O grande abajur girando no ambiente escuro é mesmo um artefato de encher os olhos, e tem aquela graça das lanternas mágicas asiáticas, dos teatros de sombra da infância. O problema é que junto com ele vem a incômoda constatação da presença de quatro rapazes, avistados de cima, fazendo a estrutura funcionar na força para o nosso deleito estético. De repente, lá se vai a poesia e  estamos nas antigas galés, o ar pesado de fantasmas da história da opressão. O Cildo é dos poucos artistas que sabem dosar beleza e acidez crítica, a por o dedo na ferida sem perder o senso de espetáculo. Ele, sozinho, já vale a Bienal.

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eduardo:

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