Alta-costura testa seus limites

Alta-costura testa seus limites

7 de julho de 2016 Colunas, Moda, Opinião 0

M MARGIELA

Pode-se atacar a alta-costura pelo elitismo, por exemplo, mas é impossível não reconhecer o caráter de laboratório que ela exerce dentro do sistema de criação de roupas.

Como em um ecossistema à parte, criaturas extraordinárias evoluem neste ambiente protegido das agruras e restrições que afligem a moda cotidiana.

Também não há como negar que preservar técnicas ancestrais tenha valor. Mas, este exercício semi-museológico, por si só, não necessariamente atualiza o repertório de significados da moda. Se a maioria das marcas escolhe o caminho dos vestidos luxuosos – vendidos a preços astronômicos para poucas milionárias ao redor do mundo – existem aqueles que se aproveitam das condições favoráveis para testar limites. E é aí que a coisa fica interessante.

Nesta temporada, com a onipresente Vetements figurando no time de marcas, o acirramento da tensão entre o ambiente rarefeito da alta-costura e a moda próxima do mundo exterior tornou-se a questão da hora.

Para começar, a Vetements desfilou na Galerie Lafayette, templo francês do consumo de prêt-à-porter. Aprofundando a provocação, convidou quase duas dezenas de parceiros para participar de alguma forma do desfile. Entre eles marcas de básicos como a Levi´s e a Juicy Couture. Também chamou quem não se parece nada com eles, caso do sapateiro Manolo Blahnik.

E aquelas exigentes e minuciosas regrinhas que definem o que é ou não alta costura? Elas valem para os moletons de Demna e Guram Gvasalia? Seja ou não possível responder a pergunta, a Vetements não foi incluída ali por acaso e o discurso de que o sistema da moda está velho, e precisa ser reinventado, que eles endossam, parece ter chegado também nessa esfera de luxo e exclusividade.

Com intensidade nova, elementos mundanos passaram a frequentar a alta costura. Mas não de forma inédita. Alguns criadores exploraram esta possibilidade no passado e seguem fiéis ao princípio, seja por provocação, seja por exercício estético.

A Maison Margiela – para a qual Demna trabalhou – detém parte dos direitos autorais por estas incursões inusitadas. Sem falar que o atual criador da casa é Galliano, outro com currículo longo nesta vertente.

Para completar o trio de abusados que movimentaram a semana de alta-costura, Viktor & Rolf é a grife perfeita. Vale conferir como eles exploraram bem o artesanato mais popular e deram valor ao denim e aos camuflados amplificando-os com recursos sofisticados.

A zona entre o extraordinário e o cotidiano, nervosa como são todas as fronteiras, é o novo lugar da alta costura? Será mesmo?

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