BIBLIOTECA NA CHINA REACENDE DEBATE SOBRE DOGMAS CULTURAIS

BIBLIOTECA NA CHINA REACENDE DEBATE SOBRE DOGMAS CULTURAIS

19 de novembro de 2017 Design 0

 

Esse mês, o Kindle — leitor de livros digitais desenvolvido pela Amazon — completa 10 anos. A data faz recordar o quão significativo esses dispositivos foram para a prática de leitura. No entanto, sempre haverá os inveterados leitores à moda antiga e, para esses ainda haverá lugares de preservação do cheiro e do tato das boas histórias. A China parece acreditar nesta afirmação e acaba de inaugurar uma imensa biblioteca.

 

A biblioteca de cinco andares, foi inaugurada  na região de Tianjin Binhai, na China, no mês passado. O centro cultural tem mais de 36 mil metros quadrados e é um projeto impressionante com estantes que vão do chão ao teto e  podem armazenar até 1,2 milhão de livros físicos.

Concebido pela empresa de design holandesa MVRDV, em colaboração com arquitetos locais do Instituto de Planejamento e Design Urbanista de Tianjin, o prédio foi finalizado em apenas três anos e é o projeto mais rápido concluído pela MVRDV até o momento.

A biblioteca está ancorada por uma estrutura esférica gigante no centro do espaço. As prateleiras vizinhas curvam-se e se espalham pela esfera, até o teto. Isso dá aos visitantes a sensação de que eles estão caminhando dentro de um olho, uma ilusão que inspirou o apelido da biblioteca: “O Olho de Binhai”.

“O interior da biblioteca de Tianjin Binhai é semelhante a uma caverna, uma livraria contínua”, disse Winy Maas, co-fundador da MVRDV, em um comunicado de imprensa. “Nós abrimos o prédio criando um espaço público bonito no interior, uma nova sala de estar urbana é o seu centro. As estantes de livros são grandes espaços para se sentar e, ao mesmo tempo, permitem o acesso aos andares superiores. Os ângulos e as curvas destinam-se a estimular diferentes usos do espaço, como ler, andar, conhecer e discutir. Juntos eles formam o “olho” do edifício: para ver e ser visto”.

O Olho de Binhai é um investimento ambicioso em uma época em que mais e mais leitores estão escolhendo e-books e leitores digitais mais baratos e convenientes, como tablets e Kindle, do que livros convencionais. De acordo com o relatório do The Guardian, as vendas de e-books passaram de US $ 20 milhões em 2006, ano antes do Kindle, para cerca de US $ 1 bilhão hoje.

A maioria das bibliotecas públicas oferecem opções de e-book, mas os clientes não precisam visitar a localização física para isso. Sendo assim, a aproximação de pessoas a estes espaços se tornou questão fundamental da gestão  das bibliotecas em todo o mundo.

Forte candidata a liderar o mundo  do futuro, a escolha da China pelos livros físicos em um espaço arquitetônico extraordinário seria uma mensagem para queles que apostam na tecnologia digital e na desmaterialização como tendências incontornáveis?

As bibliotecas perderam frequentadores e parte do status de templos do conhecimento não apenas em função dos dispositivos de leitura virtual. A multiplicidade e o imenso volume da produção literária tornaram difícil a identificação do livro que deve ou não permanecer em uma biblioteca.

Até a Idade Média o dogma cristão determinava esta seleção. Com a modernidade e a invenção da imprensa, os clássicos, agora traduzidos, tornaram-se acessíveis. Simultaneamente, uma enorme disparidade de gêneros literários e temas entrou em circulação acirrando o debate entre o que era ou não literatura de qualidade.

De lá para cá este quadro apenas se intensificou. É curioso que venha da China, uma país que impõe sérias restrições aos conteúdos que seus habitantes podem ter acesso a notícia de um espetacular projeto de biblioteca. Na visão das autoridades chinesas, que livros vão poder estar dentro dela?

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