Bienal do Mercosul, lama em Minas Gerais, tiros em Paris

Bienal do Mercosul, lama em Minas Gerais, tiros em Paris

16 de novembro de 2015 Arte, Colunas, Opinião 0

Talvez pela insensatez política reinante, talvez por conta da lama que desce o rio arrastando o Brasil para um buraco cada vez mais fundo, o fato é que saí de casa em mood denso para ver a Bienal do Mercosul. O contexto era o de uma Bienal na berlinda. Confesso que estava predisposto a achar ruim o rompimento com um histórico de inserção no circuito global justificado pelo discurso de “retomada das origens”. Já vi políticas locais dizimarem iniciativas bem sucedidas quando deveriam ter se empenhado em criar outras para abrigar suas reivindicações.

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Ao chegar à mostra no Santander Cultural, este que está na imagem aí acima, todas estas considerações foram deixadas de lado. Dei-me conta (mais uma vez) do tamanho do privilégio que é ficar diante de obras de arte. Eu nem sabia, mas algumas delas me sequestariam coração e mente em instantes.

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Dar de cara com o “São Francisco” do Aleijadinho dançando sob a iluminação artificial, por exemplo, redime qualquer lapso de política curatorial.

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“Cabeça coletiva” da Lygia Clark proporciona outro momento maiúsculo.

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O “Jardim de Orvalho” é um Tunga em momento mais romântico. A peça é parte da mostra “La Voie Humide”, de 2014, que ele apresentou na Galeria Luhring Augustine de NY.

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As fotografias do Dirnei Prates, uma superposição de títulos bíblicos + referências na história da pintura + cenas eróticas mundanas oferecem bem mais que o desconcerto de uma combinação improvável.

Carlos Castro Arias, da Colômbia, imprimiu os motivos deste papel de parede com o sangue de membros da família. A família dele é a nossa, o sangue é o das Américas periféricas, como é nosso o corpo despedaçado de Tiradentes pintado pelo Pedro Américo. É o que sugere a mostra que se ocupa do Barroco e da Antropofagia como uma dupla espinha dorsal da arte brasileira.
Na saída, peguei-me imaginando se, caso a Inconfidência mineira fosse hoje, nos daríamos por satisfeitos postando “somos todos Tiradentes” na rede social. Com este pensamento na cabeça recuperei meu pacote de considerações na entrada do Santander.

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A última imagem do dia foi deste menino, já em outra mostra, em outro espaço. Ele ficou por longos minutos nessa posição assistindo a um vídeo. Às vezes a gente quase esquece, mas existe alternativas a despejar rejeitos tóxicos em rios, vender a consciência em Brasília ou dar tiros em Paris.

A grande incógnita desta Bienal empenhada em abordar a arte produzida  fora dos grandes centros nem é se ela consegue o que queria ou não, é saber se terá valido a pena abrir mão do movimento de internacionalização que ela havia traçado até aqui.

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