DAPPER DAN X GUCCI: o homem que subverteu o plágio

DAPPER DAN X GUCCI: o homem que subverteu o plágio

2 de agosto de 2017 Moda 0

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Casos de plágio sempre rendem discussões homéricas no mundo da moda. O mais recente — e dos mais interessantes dos últimos tempos — envolveu a Gucci e uma figura imponente da cultura hip hop dos anos 80 e 90: Dapper Dan. Conhecido como “o alfaiate original do Harlem”, ele aproximou o mercado de luxo a um público de gangsters, rappers e boxers que se despiram, na época, do elitismo de moda européia para vestirem o chamado “vestuário étnico do gueto” – criações que Dapper lançava apropriando-se de tecidos e logotipia de marcas famosas. A Gucci pôs fim a essa história quando a palavra ‘homenagem’ entrou na roda. Dapper Dan, por sua vez, manipulou a iconografia da homenagem de forma diferente. 

“Meu senso de estilo veio de ter buracos nos meus sapatos”, disse Daniel Day — nome real de Dapper Dan — ao The New York Times. Desde a infância à abertura da boutique homônima décadas mais tarde, o entendimento da roupa como reflexo de status social, pertencimento e diferenciação eram claros para ele como parte de uma mentalidade geracional de muitos homens negros que cresceram no Harlem. “O rótulo é tudo. O rótulo é o que a clientela dos gangsteres usa para permitir que os outros gansteres na rua saibam: você não tem o que eu posso ter. O rótulo e os logos é que os separam.”

Ele percorreu a África, no começo dos anos 70, em uma experiência que mudou sua vida. “Eu trouxe algumas obras de arte de volta comigo da Nigéria. E também trouxe alguns trajes. Muitos alfaiates na África estavam fazendo sua versão do terno americano”. Ele voltou para os EUA com este dado na memória e, após um insight, decidiu que venderia roupas adquiridas de pessoas que roubavam de lojas de departamento. Compraria peças deles e as revenderia com lucro.  Foi dessa epifania à abertura de uma boutique em pouco tempo.

Já nos anos 80, ele tinha capital necessário para adquirir e vender peças de couro e pele. Ele conta que, em uma tarde, um homem entrou na boutique carregando uma bolsa Louis Vuitton. “O cara estava se vangloriando da bolsa. E me ocorreu que: se era assim que ele se sentia sobre a bolsa, como ele se sentiria se a bolsa da Louis Vuitton se tornasse uma roupa completa?” Esse foi o momento em que tudo mudou. Dapper contratou um grupo de alfaiates, membros da família e amigos para trabalharem com ele e passou a modificar originais.

Big Daddy Kane, Eric B. e Rakim, KRS-One e LL Cool J eram rappers que estavam entre os clientes que vinham para adquirir as incríveis reinvenções que ele fazia de peças da Gucci, Louis Vuitton, Fendi e MCM, trabalhando com os logos em casacos de couro, chapéus, ternos e até mesmo em interiores de carros. A loja permanecia aberta sete dias por semana, 24 horas por dia, com negociantes levando fotografias das últimas criações para todos os cantos dos EUA, da Filadélfia a Califórnia. Porém, após uma série de batalhas legais com as marcas de luxo das quais ele se apropriava, Dapper Dan teve que fechar seu negócio em 1992

O curioso é observar como determinados personagens trocam de posição nessa história, que têm desfechos no mínimo inesperados. Recentemente, a  Vuitton  fez parceria com a Supreme, marca que ela processou por plágio anos atrás. Por sua vez, a Gucci — uma das marcas de luxo que fez a Dapper Dan fechar — hoje, tenta chamar a atenção de uma geração imersa no hip-hop inspirando-se exatamente no trabalho deste talentoso fora-da-lei da moda. São as artes do plágio em vestes ardilosas de homenagem. Como avaliar tudo isso senão como contradição e ironia típicas da geração millennial?

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