DFB FESTIVAL 2018: PRIMEIRO DIA

DFB FESTIVAL 2018: PRIMEIRO DIA

12 de maio de 2018 Moda 0

Backstage de Lindebergue. (Foto: Nicolas Gondim)

Se o eixo imaginário do planeta fosse uma condição humana poderíamos, num rodopio só, enxergar todas as nuances e camadas dos territórios que nos são alheios. A empatia não seria uma figura esporádica; mas alguém da família. Olhar em todas as direções é o mote do Dragão Fashion Brasil Festival, em 2018, sob a temática 360º. Representatividade, compromisso social, preservação do patrimônio cultural nordestino se encontram na 19ª edição do evento consolidando as bases que fazem deste o maior festival de moda autoral do país.

SOBRE PASSARELAS E FLASHLIGHTS

O índice de atitude blasè no nordeste é baixíssimo. É claro que os morcegões da primeira e segunda fila também surgem por de trás das sombras com óculos escuros sob o sol da meia-noite, analisando tudo com olhar inexpressivo. Mesmo assim, aqui, eles são muito mais autênticos. Mais apaixonados. As cores que confrontam-se em abundância nas roupas que esperamos ver também representam o número infinito de cordialidades que eles dispõe.

A passarela é um verdadeiro canto da sereia. Convidativa, faz todos experimentarem, ainda que por um ou dois segundos, o espírito giselesco em stand by. Produtores e coordenadores das salas de desfiles, na maioria das vezes jovens, riscam a passarela lotada de gente trazendo pochetes, meia arrastão, sapatos brilhosos combinados com a camisa do evento. Um carão aqui, um quadril arqueado ali. E as poucos, o papel da passarela se faz antes mesmo do grande show começar.

De repente, no meio do burburinho se ouve: Je parle français, I don’t speak english. A impressa internacional se mistura com veteranos do jornalismo brasileiro que divide o banco com influencers, figuras locais importantes e entusiastas. A última fila – a mais interessante delas – reúne todas as gerações: drag queens veteranas passando a coroa para as mais novas. Garotos com roupas saídas do porta-malas de um grupo pop dos anos 80. A turminha hype da geração-pochete-no-ombro. O casal aristocrático moderno: ela, vestido florido mais sandália prata; ele, pólo preto mais mocassim. O norueguês de chinelo de dedos. A primeira-dama do estado. Quando as luzes se apagam, o silêncio que fica é de um ecumenismo fashionista.

desfile saldanha

Duas frentes se encontram no segundo desfile da Saldanha no DFB: a alfaitaria e o esportivo – em especia, o surf. A coleção que inicia com tons crus em peças de linho vai abrindo em tons de por do sol em peças de musseline. A beleza é neutra, dando aspecto de pós-mergulho. O styling gera pontos altos colocando as camisas de linho preto de forma desalinhada, sem acabamento, com fiapos expostos. O destaque vai para o moletom cropped laranja com bolsos grandes nos ombros.

desfile Wagner kallieno

A atmosfera aqui é de um futurismo de paetê. O plush em candy color da jaqueta logo pula para a lapela do vestido vinil que em seguida cede espaço para o verde repetiliano flúor – fetiche da temporada – que lança-se em saias recortadas, conjuntinhos e camuflados. Do meio para o fim da coleção, o esportivo dá as caras em forma de manga presunto, misturado a vinil ou como base para rendas. A licença poética do estilista fica por conta de um casaco de pele que simplesmente parece destoar de todo o resto. A paleta vai dos beges, passando por verdes, amarelos e terminando em vermelho cereja em peças de couro animal print.

desfile linderbegue

Certamente esse era o desfile mais esperado do primeiro dia. As especulações que vinham e iam de uma sala para outra antes da apresentação de Lindebergue eram tão grandes quanto o espetáculo que veríamos em seguida. O público se acotovelava para entrar na sala. As cadeiras reservadas para a impressa imediatamente ficaram sem espaço, sem respiro algum. Quando a primeira batida oitentista ecoou e a modelo saiu das sombras enrolada por uma faixa de gaze na cabeça, talvez não nos passasse pela cabeça o espetáculo de corpos e vozes dos próximo oito minutos. A explosão foi certeira. Modelos masculinos vinham usando túnicas plasticas com bordados de genitália feminina e assim o faziam, inversamente, as modelos femininas. Na make, o vermelhidão dos olhos por debaixo do plastico filme deixavam notar referências a cirurgias plásticas e de redesignação sexual. Regatas de vinil bordados com seios operados falavam da diversidade de mulheres e do que significa ser mulher hoje. A alusão a marca “Contem 1g” virou “Contem gente” que evoluiu para túnicas com slogan de amor próprio. O casting incluía modelos transgêneros, o coletivo “As travestidas”, modelos plus size, numa infinidade de corpos e expressão. Lá do alto, a drag abriu o leque do tamanho de sua comoção e o fechou com vitalidade: o trabalho ali estava bem feito. O manifesto terminou ao som de Cher com a pergunta que nunca se deixou abafar: Do you believe in life after love?

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