DFB Festival 2019: Quarto dia

DFB Festival 2019: Quarto dia

20 de maio de 2019 Moda 0

Baba. (Foto: Nicolas Gondim)

O clima do quarto dia da edição 2019 do DFB Festival era de despedida, mas também de comemoração. Os vinte anos do evento foram celebrados à altura da ocasião, com muita moda, cultura, música, alegria e um banho de diversidade e inclusão sob o sol intenso e generoso do Ceará.

A marca estreante Baba, o veterano Ronaldo Silvestre, a segunda coleção da Flee e a D’aura integraram o line up do dia, seguidos pela estilista cearense Silvânia de Deus. Ela que esteve presente na primeira edição do Dragão, retornou ao line up encerrando não apenas esta edição histórica, mas de certa forma simbolizando este ciclo longo e potente em que o Dragão serviu como plataforma de lançamento de talentos para o pais e para o mundo.

A estreante Baba fez um desfile tão lúdico quanto o nome da marca sugere. Cores primárias e formatos geométricos alusivos a brinquedos de plásticos vinham presos como belt begs de couro ou em estampas nas camisas leves. Um tom esportivo, praiano, nostálgico e infantil tomou de assalto as camisas, ora listradas, ora ilustradas acompanhadas com bolas de basquete e garrafinha de vidro do refrigerante São Geraldo — um clássico cearense.

Óculos redondos coloridos e jaquetas college gráficas reforçavam a pegada estudantil. Esta espécie de esportivo pedagógico, atingiu ponto máximo quando um modelo entrou segurando um livro e o apontou para a platéia em posição bélica. Na capa se lia: “Ninguém solta a mão de ninguém”. Com citação à Bauhaus e livros e mais livros trazidos por tipos variados, da drag queen ao idealizador do evento, Cláudio Silveira, a Baba foi merecidamente aplaudida de pé.

Tem sempre um clima monástico na D’aura, uma aura ascética, quase sobre-humana. Nessa coleção, o preto, o branco e o bege-areia imperaram de novo, mas com um acréscimo muito interessante de um verde brilhoso em blazeres e vestidos-batina de tafetá. As capas abertas e o estudo de modelagem das longas camisas brancas de alfaiataria propiciaram um momento síntese do estilo da marca. A austeridade dos shapes recebeu informação esperta de styling com a adoção do All-Star. Apesar de algumas experimentações da alfaiataria, a coleção traça uma linha reta, sem relevos ou rasuras desnecessários: é o blazer sem nada por baixo, a chemise branca revelando o corpo nu, as tiras, os sobretudos, as calças largas, livres e confortáveis em si mesmas.

“Não converso, massacro meu medo, mascaro minha dor, já sei sofrer”, soou a voz de Gal Costa, cheia de tenacidade, abrindo o desfile de Ronaldo Silvestre. Nesta coleção que fala sobre dores e repressões, Silvestre traz a figura de uma mulher cisne negro, lidando com as dualidades da força e dos limites. A leveza e a fluidez das transparências e das penas vai ganhando corpo em peças de sarja e denim, com cintura super marcada e saia rodada, quase uma versão utilitária do New Look. Na passarela, entre o homem corporativo e a mulher belle époque, a coleção traçou uma bonita homenagem ao lado fatal e vulnerável do poder feminino.

O desfile da Flee foi como um mergulho. Da espuma, vieram os looks branco plácidos: o vestido com uma pantera desenhada, a chemise com cinto de crochê verde, a calça de cintura alta com a bolsa de palha. Mas foram os looks coloridos que injetaram o frescor na coleção em combinações de amarelo com laranja, roxo com verde, cinza com turquesa, em bases para os felinos que estamparam boas peças. Para fechar, lenços usados na cabeça ou como a parte de cima do biquíni. Mergulho refinado e energizante.

Silvânia de Deus estava no line-up da primeira edição do Dragão Fashion Brasil, lá em 1999. E foi ela quem encerrou a comemoração dos 20 anos do evento que se tornou a maior plataforma da moda autoral na América Latina. Com piano na boca de cena, os indícios eram de que  aquela apresentação seria um espetáculo. E foi. Desde as primeiras notas de Feeling Good de Nina Simone — interpretada pela artista cearense Lorena Nunes —  confirmaram-se as expectativas. Direto do ateliê instalado no coração da Praia de Iracema, Sil trouxe os ventos dos mares e a beleza dos ciclos da natureza para dentro da coleção, reverenciando as brisas, a beleza natural dos corpos em suas diversidades étnicas e etárias. Lá estavam as tramas coloridas e os círculos trabalhando a metáfora em vestidos que flutuavam sobre a passarela. Com samba no pé, Silvânia de Deus recebeu as palmas de um público em pé e emocionado, fechando este ciclo de vinte anos do Dragão Fashion Brasil. Outros virão.

Sobre o autor

admin:

0 Comments

Compartilhe a sua opinião!

Seu e-mail não ficara público. Campos requeridos estão marcados com *

Deixe um comentário