Economia do compartilhamento

Economia do compartilhamento

16 de julho de 2015 Opinião 0

111

A economia do compartilhamento é, talvez, a mais inovadora em atividade. Existem diversas vertentes, seja potencializando quem já exercia atividade econômica em escala “artesanal”, seja, efetivamente, criando uma atividade em lugares ou setores em que antes ela não existia. De uma maneira ou de outra, ela vem desafiando os formatos tradicionais.

Acompanhamos recentemente, no Brasil e no mundo, protestos e ações reguladoras contra os serviços do Über. De um lado, taxistas detentores de licenças formais para o exercício de sua atividade; de outro, usuários insatisfeitos com os custos e a qualidade do serviço de táxi e, ao mesmo tempo, muito satisfeitos com o que o Über lhes proporciona. Independente do desfecho deste embate, uma coisa é certa: quem usa quer alternativas.

O Über tem diversas características em comum com outras plataformas da economia do compartilhamento: surge em um ambiente virtual, notadamente mobile, às vezes até por meio de um aplicativo, e conecta pessoas que queiram oferecer um serviço (de transporte nesse caso) com pessoas que estejam precisando deste serviço. Isto representa o novo na economia do compartilhamento. Enquanto na economia tradicional as empresas são “donas” da tecnologia de produção ou dos meios necessários para a realização do serviço, em plataformas como o Über, a única – e valiosa – contribuição é conectar uma ponta a outra de forma organizada e segura.

Outra característica em comum a estas plataformas é o fato de terem começado sob o formato de startups e obtido o aporte de capital. Os investimentos são pesados e é praticamente impossível fazer uma plataforma progredir sem a ação de investidores.

A conjunção destes fatores tem causado um grande impacto na atividade econômica. O Airbnb, por exemplo, tem representado uma ameaça considerável ao faturamento do setor hoteleiro. Em um ano, estima-se que os hotéis de Nova York tenham perdido 1 milhão de diárias para o Airbnb. Mais do que isso, pessoas que nunca haviam pensado em alugar sua casa (ou um cômodo de sua casa) por temporada começaram a fazê-lo. Na realidade, o aplicativo torna as coisas mais fáceis, eliminando muitos dos contratempos que havia para se anunciar um imóvel ou cômodo, para a seleção do hóspede e para receber o pagamento. Do lado de quem aluga, a situação é a mesma: é muito fácil selecionar um imóvel, os comentários e fotos dão segurança em relação ao que está sendo alugado. Há um fator interessante: muitas pessoas começam a utilizar o Airbnb como hóspedes e, com o tempo, decidem também alugar seus imóveis através da plataforma.

É importante mencionar a importância da construção de redes para o que poderia ser chamado de “economia do relacionamento”. São as experiências de outros usuários que constroem a reputação de um aplicativo. São as opiniões dos usuários em relação a outros usuários que muitas vezes dão a credibilidade ao sistema. A reputação passa a ser um capital, como acontece com usuários de plataformas de comércio, como o e-Bay ou o Mercado Livre. As redes recuperam em nossos universos virtuais certas práticas e valores de pequenos grupos, como se vivêssemos em uma pequena vila, com laços em escala global.

Os modelos de negócio da economia colaborativa são, em essência, modelos disruptivos, que substituem serviços já oferecidos pela economia tradicional. O Airbnb é uma opção à rede hoteleira; o Über, ao serviço de táxis. Há inúmeros outros exemplos, como os casos de serviço de compartilhamento de automóveis, como o Zipcar, o Car2Go e o Enterprise CarShare. São alternativas, seja em relação às locadoras, seja em relação à própria necessidade de se ter um automóvel próprio. Há casos também como o Ride With, um aplicativo que vem sendo testado pelo Waze em Israel. Ele rastreia a rota que um usuário faz ao ir e voltar ao trabalho, tornando possível encontrar outros usuários para que se possa compartilhar carona, economizando ou até mesmo ganhando algum dinheiro com isso. A versão brasileira se chama TRIPDA.

Os formatos são bastante variados. Há o caso do Letote, que oferece acesso ilimitado a roupas e acessórios de diversos designers por meio de uma assinatura. As roupas são escolhidas no site, entregues em casa e podem ser usadas por 1 mês. A devolução também se dá via correio.

A força deste novo modelo econômico tem feito com que empresas da economia tradicional busquem oferecer seus serviços em formato colaborativo. É o caso da DHL, que criou o aplicativo My Ways, o qual atende tanto a necessidade de se enviar uma mercadoria quanto às pessoas que queiram fazer uma renda extra realizando entregas.

Ao mesmo tempo em que o consumo colaborativo destruirá modelos de negócios, é certo que não significará a substituição da economia tradicional. Pelo contrário, a experiência nos mostra que as inovações disruptivas acabam sendo apropriadas em algum grau pelas estruturas tradicionais. A experiência da My Ways/DHL é um primeiro passo nessa direção.

Enquanto isso, a revista Forbes estima que a economia colaborativa gera anualmente uma receita de US$3,5 bilhões para os usuários e estima-se que esse valor vá crescer 25% ao ano.

A economia do compartilhamento é uma dessas revoluções que surgem de tempos em tempos e mudam a forma como trabalhamos e nos relacionamos com pessoas, ofertas, demandas e bens de consumo. Enquanto a visão tradicional da economia capitalista está na acumulação de riquezas, a da economia colaborativa está em usufruir ao invés de ter.

Sobre o autor

admin:

0 Comments

Compartilhe a sua opinião!

Seu e-mail não ficara público. Campos requeridos estão marcados com *

Deixe um comentário