Filmes e desconfortos

Filmes e desconfortos

2 de fevereiro de 2014 Arte 0

ninpho

Não sei se foi efeito de uma ressaca ou a sucessão de fatos dos últimos dias, mas recentemente descobri o prazer de estar só e de observar as pessoas vivendo suas vidas, seus hábitos, a maneira como olham o mundo, riem e conversam. Na multidão, grupos se aglomeram, casais andam juntos. Quase sempre não há unidade. Dois, três, cinco, dez. Famílias, amigos, namorados, ex amantes, ex conhecidos, ex unidades. Esperei meses para que o filme Ninfomaníaca do Lars Von Trier entrasse em cartaz e foi com este espírito, e sozinho, que fui ao cinema ver o filme. Esse é outro prazer desconhecido por boa parte das pessoas. Ir ao cinema sem companhia dá a tranquilidade e a calma necessárias para a absorção completa da experiência. É uma oportunidade de observar de longe a vida dos outros, tanto na tela quanto nos assentos da sala lotada. Curioso este filme. São muitos os motivos que fazem a experiência com ele melhor quando apreciada a um. Na sala, eu não era  o único nessa condição. Antes da sessão, tomando um café, vi todo tipo de gente e arranjos entrando na sala. Poucos pares, muitos trios e unidades. O rapaz que verificava os ingressos observava quem entrava, parecia disfarçar o desconforto ao carimbar ingressos de senhoras de idade prestes a encarar as cenas de sexo, as sequências de pênis, vaginas e orgasmos. A versão é censurada, mas nada é amenizado. O silêncio, presente em praticamente todo o filme, à exceção da ótima trilha do Rammstein, só não é mais desconfortável do que a claridade das cenas, que se espalha para a sala do começo ao fim da projeção. A luz que iluminava as cenas iluminava a audiência. A cada cena mais explícita, notei que algumas pessoas pareciam paralisadas na cadeira, evitando até mesmo olhar para os lados. Lidar com o tabu do sexo dividia a plateia entre quem estava ok com o que se passava na tela, e quem precisava disfarçar o desconforto. Difícil deve ser para quem assiste acompanhado. Alguns casais saíram sem ao menos trocar olhares. A maioria saiu em silêncio, cada um na sua direção, provavelmente tentando assimilar a experiência ou esperando que o outro quebrasse o gelo, causado pelo incomodo provocado pelo filme.

Veja abaixo o trailer para a segunda parte do filme. Vem aí mais desconforto e mais discussão sobre o assunto.

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ramonsteffen:

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