Fonte FUTURA embala ousadia de três criadores
Criada por Paul Renner em 1924, sóbria, neutra, elegante, bem equilibrada e legível em corpos grandes, mas também em texto corrido, a Futura apresenta as características preferidas pelos designers vanguardistas dos anos 20 e 30. Ela já foi sinal de progresso e promessa de esperança, serviu para criticar o capitalismo e veicular ideias de subversão às autoridades; vendeu sonhos e expectativas (e sapatos e carros, também) a milhões de pessoas. Foi a fonte escolhida para estampar as missões Apollo, incorporando o ideal de aspiração cósmica da corrida espacial. Como tudo na moda volta, a tipologia marcante da Futura retorna ao posto de revitalização, com três casos recentes para provar.
É Louis Vuitton. É Nike. E pode ser também Burberry a mais nova adepta da futura. Com a entrada do estilista italiano Ricardo Tisci na casa de moda inglesa — e levando em consideração seu passado disruptivo na francesa Givenchy — era esperado que muitas mudanças acontecessem, tanto nas ações, quanto nas imagens. A primeira parte já está acontecendo: a Burberry declarou o fim do uso de peles e também da queima de produtos não vendidos, deixando feliz uma parcela considerável de ambientalistas.
A segunda parte também está acontecendo. Tisci atualizou o logotipo da marca, abandonando as serifas e o viés clássico. A nova versão incorpora a herança da marca, mas sugere as coordenadas culturais que a Burberry pretende tomar. Esse pacote de atualizações de Tisci também inclui um monograma, desenvolvido por Peter Saville, lendário designer gráfico britânico conhecido pelas capas dos discos do New Order.
A história da fonte futura aporta em outra grande marca com outro designer recém contratado. Na semana passada, Hedi Slimane revelou o novo logotipo da Celine, que passa a ser escrita agora sem o acento do primeiro “e”. Inspirada numa versão original dos anos 60, a ideia de Slimane é que a marca tenha um futuro sem sotaque. Bem se viu: todos os posts da antiga diretora, Phoebe Philo, foram deletados do Instagram.
Essa manobra chocou a poucos: Slimane é famoso pela iconoclastia. Na sua passagem pela Yves Saint Laurent, o designer arrancou o Yves e acrescentou “Paris” — sem falar na revolução estética que faria depois. O logotipo da Saint Laurent Paris de Slimane também recebeu uma entonação mais em negrito — e advinha — mais ao estilo futura do que costumava ser na época de seu fundador.
O caso mais fresco de uso da fonte futura está na nova empreitada do brasileiro Pedro Lourenço. Fora do circuito desde 2015 quando encerrou a marca homônima, o designer vinha algum tempo fazendo suspense com postagens no Instagram. A revelação só veio na semana passada, com o anúncio da Zilver.
Arriscando uma nova linguagem de moda, mas conservando as bases minimalistas que lhe deram reconhecimento, Pedro Lourenço quer fazer moda com responsabilidade. “A moda não é apenas sobre design, é também um compromisso de experimentar e encontrar novos caminhos, não apenas novos em termos de silhuetas, mas novos em termos de fabricação e produção de produtos de uma maneira mais consciente”, disse ele.
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