Bravo, Elbaz!

Bravo, Elbaz!

13 de abril de 2009 Moda, No Radar 0

lanvin

O crítico de arte Clement Greenberg, teórico e propulsor da prestigiosa pintura americana dos anos 50, disse uma vez que só lhe foi possível escrever o que escreveu porque havia grandes artistas atuando no mesmo período que ele. Ponto para Greenberg que reconheceu o privilégio e historiou o momento.

Com a fala de Greenberg na cabeça, impressionado pela roupa da Lanvin e cedendo à pretensão de escrever algo pertinente a respeito, aproveito a deixa para falar do talentoso e rechonchudo Elbaz.
Além do sucesso, o que torna a parceria Elbaz /Lanvin particular, deve ser creditado à técnica que ele dominou e como ela se relaciona com o histórico da casa e da própria moda.
No começo do século XX Madame Lanvin já era conhecida pela capacidade de dar vida aos tecidos e pelo colorido. Atualmente Elbaz supera seus pares exatamente nestes aspectos.

A se levar em conta que ele não hesita em trocar fios de seda por outros de composição sintética, como já declarou, e o reduzido número de operações que emprega na confecção de um vestido, a exuberância da roupa Lanvin seria inviável. No entanto, como ela de fato acontece, e de forma esplendida, o feito de Elbaz é espantoso. Andando pela contramão, ele não esconde que simplifica tudo e parte para soluções pouco ortodoxas. Os zíperes estão expostos, não há bainhas nem corsets, e tampouco materiais de sustentação. Apenas o tecido vaporoso ondula em drappings levitantes.

Deixar de lados os acabamentos não é novidade. Na Commes des Garçons, Rei Kawakubo já fez tudo que é possível neste campo, inclusive transformar a falta deles no assunto central.  O Elbaz não faz nada disso, não lhes dá dimensão nenhuma, apenas dispensa-os. Sua atenção está centrada em outro ponto. Ele mira uma roupa de gosto clássico, escultórica e pictórica, e relativiza todos os meios para se chegar a ela.

A independência em relação a convenções da boa costura leva a um outro conjunto de ações. Os cortes não são a laser nem a máquina. Se há uma entretela estruturante ela é invisível e não há o menor vestígio de alinhavos nos drapeados, provavelmente feitos com agulhas muito finas. O efeito é magistral, e a equação entre esta roupa em débito com a estética do passado e movida pelo desimpedimento contemporâneo em relação a regras técnicas, é uma contribuição ainda por ser mensurada. Que me conste, não há precedentes para imagens tão luxuosamente significativas realizadas com processos tão mínimos de costura.

publicado originalmente no usefashion journal – edição revista

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