Lichtenstein no Pompidou: uma experiência pop
Depois de relutarmos um pouco, lá fomos nós ver a exposição de Lichtenstein no Pompidou. Ok. Ainda esta tudo lá: a genialidade preservada e, a esta altura, o pensamento revelado. Tudo arrastado para dentro do espaço do museu-espetáculo. Levamos um tempão na fila. Ao som de todas as línguas atravessamos um infindável zigue-zague de barreiras, iguaizinhas aquelas de fila de banco e aeroporto. Isto antes de sermos atirados em salas hiper lotadas, duelando com educados “pardons” pelos valiosos centímetros quadrados que davam acesso visual aos trabalhos. Insana a situação. Nem supermercado em véspera de catástrofe deve ser tão disputado assim. A obra de Lichtenstein tornou-se tal e qual os temas dos quais ele se apropriou: um produto mass media reconhecível e desejado por quase todo mundo. Este destino, perseguido pelos artistas da arte Pop, parece perfeitamente cumprido. O que redime cada um deles é o viés singular que conseguem imprimir ao seu conspícuo relacionamento com embalagens de produtos, imagens publicitárias ou personagens de cartoon. Se é que estes artistas que a seu tempo abriram um fenda nos cânones da arte, alcançaram um gigantesco apelo popular e hoje atingem preços estratosféricos no mercado precisam de alguma redenção. Lichtenstein, em particular, forçou todos os limites na sua aproximação e uso de imagens icônicas.Ele conseguiu isolar elementos da própria pintura, como a pincelada virtuosística, alçada à mesma categoria da garota bonita da propaganda ou da cena da revista de quadrinhos. Como suprema irreverência, ele também repintou obras de seus próprios colegas, contemporâneos e do passado. Mais Pop impossível. Mais perto da grande e abarrotada loja no andar térreo do Pompidou, também impossível.
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