Susana Saulquin, socióloga, educadora e escritora, Kika Tarelli, uma das criadoras da semana de moda da Argentina, a BAFWeek, e Maximiliano Iriart, do Centro Metropolitano di Diseño de Buenos Aires estarão junto comigo ajudando a encarar de frente as questões de autoria na criação da moda contemporânea.

O tema assombra os jovens criadores e é mais que pertinente. Se nas artes e na literatura, o conjunto de uma obra deve permanecer associado à assinatura de um indivíduo determinado, na moda, a noção de marca pode se sobrepor à figura do autor. Quando um designer novo assume uma marca já existente, por exemplo, ele deve trabalhar dentro da identidade que outro designer definiu para ela.

Outras práticas, comuns nos ambientes da criação de moda, também problematizam a questão da autoria. Por meio de um contrato comercial, o autor pode repassar o direito ao uso do próprio nome para uma holding e abdicar de qualquer ingerência sobre os produtos apresentados com a sua assinatura. Além disso, o poder decisório sobre os rumos da criação pode ser transferido, totalmente ou em parte, para pesquisas de comportamento e estatísticas de mercado.

De fato, em ambientes corporativos, é comum ocorrer a transferência da autoridade sobre as condições que a autoria deve acontecer.

A gestão corporativa da moda assume o controle dos processos criativos, e consequentemente da autoria, como parte dos modelos organizacionais, em função de exigências práticas inerentes aos negócios de moda – aumento da produtividade, compartilhamento de inteligência com aportes variados, etc.- mas é a relativização histórica do conceito de autoria que abre caminho para que este controle ganhe sustentação.

A maioria dos antecedentes que levaram à relativização da autoria ocorreram ao longo do século XX e estão, relacionados a outras áreas, Os ready mades de Marcel Duchamp, o conceito de Obra Aberta (Eco,1962), a pluralidade de sujeitos identificada em A Morte do Autor (Barthes,1968), a autoria como uma das funções do sujeito na conferência O que é um autor? (Foucault,1969) os métodos de encenação teatral descritos por Artaud, os processos de criação coletiva do Living Theatre (EUA) e do Teatro Oficina (Brasil), estão, seguramente, entre os antecedentes que contribuíram para tornar mais elástica a noção do autor único e indivisível que vigorava até o século XIX. Em outras áreas criativas, entretanto, questionar a autoria e redimensiona-la é um projeto sob o controle do(s) proponente(s). A escolha pelo anonimato ou pela autoria compartilhada na arte, por exemplo, é uma condição determinada internamente, ou seja, pelos envolvidos na ação, e não por um agente externo.

Esta autoria estendida, planejada por mecanismos de decisão que podem envolver vários outros indivíduos, um grupo de gestores, por exemplo, é uma das condições singulares de autoria no campo da moda, inconcebível nos mesmos moldes em outras áreas.

Estas e outras particularidades que fazem parte da vida do aspirante a criador de moda farão parte das conversas que esquentarão ainda mais o clima do Dragão Pensando Moda em Fortaleza.

A mediação da mesa é da Phaedra Brasil e o encontro é realizado pelo Senac CE.