Na estrada com o Walter Salles

Na estrada com o Walter Salles

24 de julho de 2012 Arte 0

Sempre há a questão dos livros e filmes e a velha impossibilidade de que uns se transformem de maneira satisfatória nos outros. De minha parte tento deixar livros na estante e filmes na telona evitando misturar as coisas. Quando um filme atinge algum estágio de excelência sendo exatamente aquilo que é, cinema, essa opção parece fazer sentido. Ainda assim, agora que me dispus a falar do filme Na Estrada do Walter Salles, que é o livro On the Road do Kerouac, confesso que fiquei tentado às comparações, mas resisti e vou dar um rumo diferente a esta conversa.

Tenho uma amiga que viveu seu momento juventude beat na passagem dos 80 para os 90. É com um olho no passado que ela se dirige ao meu mais longevo back ground de transgressões e pergunta: O mundo esta ficando careta, não é? De fato, já faz tempo que nada mais é contra nada, e que o profissionalismo aplainou a experiência com a droga, com o sexo e tirou de cena qualquer possibilidade explícita de insatisfação. Entediada, e nostálgica do que não pode mais viver, ela olha para os desbundes do passado e lamenta, enquanto corre atrás do horário e da carreira.

O mundo é bem diferente dos loucos anos 60 e 70, e se parece pouco com o tempo em que escritores beatniks esfregavam a poesia, o desconforto e a própria pele na cara da América conservadora dos anos 50. O mundo é diferente e para melhor em muitos pontos, mas, um grande mérito do filme do Walter Salles é o de evocar para essa geração uma época que nem o marketing, nem a publicidade ou o sucesso a todo custo estavam infiltrados nas experiências com a arte e com os vazios da existência, e estes sim, permanecem os mesmos.

Além disso, é um prazer confirmar que o Walter Salles dirige atores com enorme sensibilidade, a ponto de revelar que a estrela da saga Crepúsculo é uma atriz talentosa e que o insosso ator de Tron pode ser  um petardo incendiário de desespero, talento e tesão.

Há momentos em que o filme é plano e igual a si mesmo, tal e qual  uma highway, mas nem isso estraga o prazer da viagem.

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eduardo:

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