Não é assim que funciona

Não é assim que funciona

14 de setembro de 2010 Moda 0

Jacobs acaba de desfilar em Nova York a coleção que leva o nome dele. Anos 70 da cabeça aos pés, justo no momento que o mundo ficou cinquentinha e sessentinha, e passou a digerir o retrô que ele ajudou a fixar no imaginário global. Isso, apesar da resistência de toda uma geração, que inicialmente só enxergava a própria avó nos modelos que ele lançava.

É comum que alguém que não tenha intimidade com a moda enfrente certa dificuldade para entender porque é que nem um conjunto de cientistas (ou departamentos inteiros de marketing) dedicados a estudar os métodos e procedimentos do estilista, seja capaz de desenhar uma coleção como ele faz ou tomar as decisões que ele toma. O grupo LVMH, que detém a tradicional grife francesa Louis Vuitton, que ele também assina, e um faturamento de muitos milhões de dólares, talvez também não entenda, mas fecha acordo com o rapaz em benefício mútuo e toca o negócio adiante.

Mesmo que Jacobs não faça nada sozinho, e não faz, ele é parte insubstituível- no sentido de eterno enquanto dure – de um sistema que funciona quando é acionado por pessoas e suas sensibilidades. Os procedimentos estão a serviço delas, e não o contrario. Lidar com paradoxos dessa magnitude, do tipo que contrapõe o talento de um único indivíduo a um mega empreendimento, é uma das contradições envolvidas na gestão de moda (e de qualquer atividade criativa). Uma boa estratégia é aceitar que elas existem e constituem um órgão do corpo da moda, pois não há a menor chance de extirpá-las. Quem diz o contrário e vende fórmulas de sucesso, mas não sabe lidar com o imponderável, deve ser mantido fora do seu negócio, ou limitado a parte dele.

Não deixe de conferir a guinada de década do rapaz. Mesmo que os anos 70 não sejam novidade, no caso dele o colorido é luxuriante, a modelagem é recheada de homenagens ao Saint Laurent do período e os materiais são de encher os olhos. Sem falar, é claro, no coeficiente de impropriedade, que é o que desorienta quem se guia pelo pensamento lógico. (Se ele emplaca anos 60 na Vuitton, como pode forçar outra década no mercado?)

Imagens: Marc Jacobs. As fotos do desfile são do fashionologie.com

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