O Estadão e Inhotim

O Estadão e Inhotim

17 de setembro de 2009 Arte, No Radar, Opinião 0

 

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 Jardim no Inhotim

Que matéria triste, a assinada pelo Jotabê Medeiros no Estado de São Paulo, do dia 15. O assunto é o Inhotim, o museu de arte contemporânea a céu aberto que fica em Brumadinho, cidade a uma hora de Belo Horizonte. Quem já esteve lá sabe que um projeto como aquele é mesmo ambicioso, e não há como não engolir verbas imensas.

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Um dos vários pavilhões contruídos para abrigar obras

O que é estranho é que o jornalista trata ambição e gastos grandiosos como se eles fossem um mal em si.  Ele se  dedica a apontar prováveis irregularidades sem oferecer nenhum dado confiável para corroborar o que diz. A única informação é que o TCU não aprovou um uma reivindicação do museu sobre tempo de uso de um provável Centro de Convenções, a ser construído no terreno dele com dinheiro público. Mas até onde o artigo informa era um projeto e não um fato consumado. Sobre verbas e isenções que o museu angariou até hoje, ele mesmo cuida de registrar que foram dentro dos parâmetros das leis de patrocínio cultural vigentes no país.

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Cosmococa, do Oitica e do Neville de Almeida, e Desvio para o vermelho, do Cildo Meireles

Em várias passagens as insinuações são mais adequadas para matar o tempo em revistas de fofocas de salas de espera, do que para o respeitável Caderno 2 do Estadão.  É um texto ardiloso e recalcado. Faz tudo parecer feio e errado sem dizer por que. O autor também desconhece, ou ignora propositalmente, qualquer qualidade no projeto. Ou mesmo na arte contemporânea. Pode-se alegar que não era esta pauta. Mas então, qual era? Terminei de ler sem saber se há mesmo algum tipo de irregularidade na construção da tal ponte, nem porque agressivas políticas de residências artísticas seriam condenáveis.  Em compensação, aprendi que o queijo gorgonzola com peras é algo muito condenável, e servi-los, ou comê-los, é práticamente uma confissão de culpa (sic). Também me tornei bem mais desconfiado sobre depoimentos otimistas de senhoras humildes do interior (sic outra vez).

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Hélio Oitica a céu aberto

Depois de conseguir a façanha de transformar um ingresso de 15 reais (preço de uma entrada de cinema em qualquer capital) em algo quase pecaminoso, o autor do artigo esquece muitas coisas mais para manter a objetividade da sua pauta. Deixa de lado o fato de que este é o país onde pontes são construídas às pressas todos os dias para levar até fazendas particulares, e não para dar acesso a instituições de arte. Também não leva em conta que, entre as muitas excentricidades dos super-ricos brasileiros, quase não existem registros de quem tenha optado por gastar seus milhões em instituições culturais. Nada disso justificaria irregularidades, obviamente, no caso delas existirem. Mas o acervo do Inhotim, o botânico e o de arte, e todo o projeto como realização cultural e social, é de dar orgulho, e não vergonha, como faz parecer o autor do texto.

Sobre o autor

eduardo:

0 Comments

  1. adriana

    17 de setembro de 2009
    Responder

    caro eduardo mota, seu texto "o estadão e inhotim" é super bem escrito. sua visão é bem lucida e inteligente.
    a frase "entre as muitas excentricidades dos super-ricos brasileiros, quase não existem registros de quem tenha optado por gastar seus milhões em instituições culturais" é uma pérola.
    é uma lastima que o foco dos cadernos de cultura dos jornais paulistas não seja o trabalho artistico e o acervo botanico depositado ali com tanto zelo.

  2. ricardo

    17 de setembro de 2009
    Responder

    assino em baixo. ricardo

  3. Silvana

    18 de setembro de 2009
    Responder

    Brilhante, parabens! será que a localização geografica do Inhotim não incomoda muito todos aqueles que acham que não existe nada realmente extraordinario(pq o Inhotim o é)fora de São Paulo? Para muitos Minas Gerais ainda é somente a terra do pão de queijo.
    Fiquei sabendo que o Sr João Batista( vulgo Jotabê) é um profissional muito respeitado no setor cultural; contudo acho que seria melhor para todos se esse senhor fosse transferido para o caderno de esportes.

    Silvana

  4. Julia

    19 de setembro de 2009
    Responder

    muito bem dito!apoiado

  5. Junia

    25 de setembro de 2009
    Responder

    Oi Eduardo,

    fico muitíssimo feliz de partilharmos a mesma opinião. Nós nos orgulhamos de ter um museu desse porte logo alí em Brumadinho e graças à vontade pessoal de um visionário sonhador. Adorei o seu texto e vou divulgar.

  6. Suzana Latini

    25 de setembro de 2009
    Responder

    Será que se o Inhotim estivesse em São Paulo, seria alvo de tantos ataques?

  7. claudia de souza

    30 de setembro de 2009
    Responder

    Nao consigo compreender a razao de um jornal como o "Estadao" ter tamanho interesse em denegrir Inhotim publicando artigos como este.
    Ja o "New York Times" em sua revista STYLE de domingo 27 de setembro dedica 6 paginas a uma reportagem chamada " PLANET ART" escrita por Guy Trebay e fotografada por Adrian Gaut a INHOTIM.
    O fato e que Bernardo Paz conseguiu colocar Brumadinho,Belo Horizonte e Minas Gerais no mapa e atrair aficcionados em arte comtmporanea ou simples mortais do mundo todo. Como diz o New York Times "Inhotim is a wonder" depois de escreverem "We were also , by the standards of the cultural cognoscenti,in one of the best places one could possibly be ".
    Estamos tao acostumados a escrever e a ler somente sobre o mal e o ruim que ao depararmos uma obra como esta , realizada por um simples "mineirinho" , nao conseguimos "dar a Cesar o que e de Cesar ".

  8. Glayson

    19 de outubro de 2009
    Responder

    Porque está fora de São Paulo. Já que SP é considerado outro país dentro do Brasil, pelos menos por alguns dos tolos que residem lá e boa parte da imprensa também, e estando o Inhotim fora de SP isso seria inaceitável.
    O importante é que o Inhotim cumpre com o que foi planejado, que é elevar o espirito humano de pessoas simples, como eu e minha família, e para pessoas mais sofistifcadas que frequentemente são vistas por lá. Isto tudo por R$15, que é como você escreveu o valor do ingresso integral na maioria dos cinemas por aqui.

  9. Lu

    27 de novembro de 2009
    Responder

    Voltei recentemente ao Brasil. Antes de sair, vivia em SP por muitos anos, e agora este ano em BH.

    Nos poucos contatos que tive com paulistas (inclusive amigos meus!) neste ano de 2009 após quase 5 anos fora do país e vivendo em BH, percebi que sua arrogância em relação a tudo que está fora de suas fronteiras chegou ao limite do insuportável.

    Qual o problema em Inhotim ter comida de primeira? "Caipira" não tem direito, é? Inhotim está cheio de estrangeiros e brasileiros fascinados com o que vêem e paulistas rancorosos, pelo que se nota com o texto do JB.

    Já foi um cara a quem eu daria atenção. HJ em dia, e com esse texto sem pé nem cabeça (a pauta não fica nada clara e é, mais que tendenciosa, MALICIOSA!), simplesmente riscado da minha lista.

    Como jornalista, devo dizer que JB se esqueceu de uma das principais regras da profissão: não chegar a lugar algum, a pauta alguma, a pessoa alguma, com uma visão acabada, pré-concebida, e principalmente, PRÉ-conceituosa.

    Quanto rancor.

    Longa vida ao Inhotim.

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