PRIMAVERA 2019: MILÃO EM 5 DESFILES MASCULINOS

PRIMAVERA 2019: MILÃO EM 5 DESFILES MASCULINOS

13 de julho de 2018 Moda 0

Dolce & Gabbana, Primavera-verão 2019.

Depois de Londres, a segunda da fila é a Semana de Moda Masculina de Milão. Com dias reduzidos, estilistas estreantes e várias marcas unindo coleções masculinas com femininas, Milão apresenta moda otimista mesmo com todas as intempéries ameaçando o clima das semanas de moda.

Não há semana de moda que não tenha embarcado na viagem sem volta do streetwear. As ruas pularam de vez para dentro das salas de desfile. O esportivo virou guarda-costas das boas escolhas. Cada nova temporada é só mais uma confirmação para a inestancável lista de adeptos da estratégia.

Nas últimas semanas de moda masculina, a alfaiataria — até pouco tempo repensada a cada estação para os homens — passou a disputar espaço com o sportswear, repetindo nas passarelas um embate que se desenrola há décadas fora delas. Marcas tradicionais como Ermenegildo Zegna, por exemplo, cederam ao esportivo, optando por apresentações informais. Na Dolce & Gabbana, esse embate é mais claro ainda, com as várias gerações da marca se encontrando: de uma lado a geração millennial em moletons bordados, de outro a geração das super modelos, liderada por Naomi Campbell num conjunto de paletó e calça risca de giz.

Na contramão dessa onda, Miuccia Prada, uma promotora da experimentação, parece um pouco farta dessa atual predileção normcore (e bocejante) da moda, mas até ela entende que a situação está longe de ser erradicada.

Para o bem da própria moda, propostas e contra-propostas não faltam. E a história continua seu curso.

Na temporada dos minishorts, tons arenosos e plastificados, confira abaixo cinco desfiles da MFW:

PRADA

Parece que o rastro de pólvora deixado pelo filme Call Me by Your Name ainda produz faíscas. Desde que o personagem Olivier, interpretado por Armie Hammer, levou para as telas de cinema um figurino basicamente formado por camisas de padrões oitentistas e micro shorts, o mundo da moda não consegue mais parar de falar dessas peças. Querendo ou não, os shortinhos fizeram seu comeback. Para confirmar isso, Miuccia Prada veio com propostas alguns centímetros mais curtas, uma espécie de “minissaia para homens” como ela define. Nessa temporada, Miuccia decidiu fazer um masculino mais sexy (palavra que sempre odiou, mas que hoje, com a noção antiquada e feia que o sexy tem ganhado, talvez valesse a subversão), entendendo que as passarelas milanesas estão saturadas pelo streetstyle & cia. Nessa linha, o homem da Prada vai buscar inspiração em outros campos, aterrizando nos anos 1960, de onde vem suéters com gola rolê em cores e padrões alusivos aos assentos de aviões da época. A jaqueta de camurça vem no comprimento midi e o chapéu de caçador tem cara de desenho animado.  A alfaiataria se mistura aos minúsculos shorts ou se revisa com jeans de lavagem clara e camisas com psicodelismos que lembram cenas da série Mad Man. O resultado é bastante comercial e segue os rumores de que Miuccia tem pensado em levar o masculino da Prada para esse caminho.

VERSACE

Ainda falando em sexy, Donatella também quis tirar algum proveito da palavra, analisando a sensualidade masculina através da multiplicidade de atitudes gerada pelos arquétipos. Por essa razão, vários estereótipos masculinos cruzaram a passarela em reconfiguração de styling. Estereotipados sim, mas com vista para o que tem de mais verdadeiro. O workaholic tinha algo de noventista, com jeans de lavagem clara e desbotada combinada com alfaitaria oversize e tênis esportivo no estilo da boy band 90’s, New Kids on The Block. O hippie trouxe camiseta com logo Versace quase flertando com o logo-frenesi da Supreme por debaixo de colete risca de giz e camisa havaiana. O skatista, em um delírio futurista, riscou a passarela com chapéus buckets em laranja refletivo e jaquetas oversized de tons fluorescentes. O menino pop vestia calça vinil e camisa com padronagem barroca ao lado de conjuntinhos de alfaiataria em neon ou animal print em vermelho. Uma confraternização com vários tipos de homens num mundo que não vale mais falar só de um.

FENDI 

Uma sombra enigmática recobriu a passarela da Fendi. A parceria com o artista Nico Vascellari, genro de Silvia Fendi, diretora criativa da marca ao lado de Karl Lagerfeld, resultou numa entrada que revela a áurea mística e sombria do artista punk. O cenário era uma cripta abobadada, por onde modelos atravessavam entre névoa, seguidos por um rastro vermelho no centro da passarela. Acima da entrada da cripta, inscrições rúnicas e figuras quiméricas em neon piscante criavam a atmosfera. Da cenografia, as ilustrações alquímicas de Vascellari pularam para suéteres e camisetas. A palavra Roma virou amor. E a logomania atacou o resto. Apesar da insinuação dark, a apresentação foi tomada pelo streetwear, dentro da medida sessentista que a Fendi costuma estabelecer. As camisas tinham construção de alfaiataria, mas vinham com tecido vazado esportivo. Os mini shorts também fizeram aceno aqui, combinados a buckets, blazers ou camisetas oversize infestadas pelos logos da Fendi — numa grafia mais robusta, assinados também por Vascellari. Óculos de lente colorida, bermuda-saia, parkas xadrezes e sandália com meia completam o time #FelizNoSimples da marca italiana.

SUNNEI

Talvez a Sunnei tenha a paleta de cores mais interessante da temporada. Isso, porque, guardando vestígios dos tons diluídos da estação passada, a marca italiana projetou uma passagem de gamas bastante sútil e reconfortante, atingindo um ápice no laranja quase coral e no vermelho quase cereja. A coleção abre com um blazer levemente acinturado em cinza claro que é completado por calça esportiva afunilada por elástico no tornozelo. Esse twist da Sunnei é esperto: vários looks substituíam a calça que acompanha o paletó por calça esportiva do mesmo tecido e cor. Os listrados fizeram sua entrada como lembretes nostálgicos de praia no inverno e estampavam jaquetas compridas, camisas alongadas, sapatos e golas. Um leve tom utilitário abraçou macacões e coletes com vários bolsos, mochilas presas como equipamento de segurança e carteiras presas com cordas de crachá. Além do streetwear que veio em forma de capuzes oversize, moletons transparentes e camuflagens urbanas.

ERMENEGILDO ZEGNA

Algo dentro do cromossomo Z da moda proposta por Zegna agrada bastante os italianos que, por sua vez, agradam bastante a quem os italianos agradam. Dentro de inúmeros outros fatores, o elo dessa simbiose, por décadas, foi a alfaiataria. Não nessa temporada, pelo menos. A surpresa foi das mais inesperadas ao perceber que apenas o último look — um conjunto de paletó e calça rosa magenta com padronagem botânica — é que encarregou-se de guardar o estilo habitual da Zegna. Naturalmente, havia um savoir-faire tradicional, mas muitas vezes ele ficava oculto sob as fortes investidas do sportswear. Acima do piso espelhado, blazers em mesh encontram macacões de sarja desbotados, jaquetas com ombros estruturados e capas de chuva. As polos de tricô tem lapela larga e vão por baixo de blazers esportivos com forro exposto. Camisetas oversize de couro vão com calças plissadas, finalizadas por máscaras de dormir em veludo. Assim como na Versace, o homem da Zegna tem várias versões diferentes por aí.

 

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