PRIMAVERA 2019: PARIS EM 5 DESFILES MASCULINOS

PRIMAVERA 2019: PARIS EM 5 DESFILES MASCULINOS

18 de julho de 2018 Moda 0

Maison Margiela, Primavera-verão 2019.

A Semana de Moda Masculina de Paris nunca é homogênea, e a diferença de densidade das apresentação é o que constitui o mais significativo dela. Nessa temporada em que Vetements voltou a desfilar, agora com uma coleção eminentemente política, a Balmain homenageou Michael Jackson, em um típico registro de referencia pop. 

Na temporada passada, a dinâmica da dança das cadeiras, mais uma vez, foi uma realidade comum para grandes marcas internacionais. Olivier Lapidus deixou a Lanvin. Christopher Bailey saiu da Burberry (entrou Riccardo Tisci). Phobe Philo saiu da Céline (entrou Hedi Slimane).

No masculino, o enredo foi parecido. Ao final da coleção de Kris Van Assche para a Dior Homme em janeiro deste ano, o que ficou anotado na caderneta de muitos jornalistas se resumia aos rumores de que aquela teria sido a última coleção do estilista para a casa francesa. Não deu outra. Semanas depois os rumores se confirmaram: após onze anos de mandado, Assche deixou a Dior. Curiosamente, o mesmo aconteceu com Kim Jones que, ao final da apresentação da Louis Vuitton naquela semana, também anunciou despedida.

Como organizar essa bagunça? Pois bem, Kim Jones foi eleito diretor criativo da Dior Homme e o superstar Virgil Abloh, da Off-White, ficou com o seu cargo na Louis Vuitton. Kris Van Assche, inesperadamente, foi parar na Berlutti — Haider Ackermann recém tinha deixado a marca, com apenas três coleções no currículo.

Além do troca-troca, Paris também herdou de Milão a movimentação reativa ao streetwear dominante das últimas temporadas. Vários designers que costumam ficar à frente, passaram a reposicionar suas tropas avançando ainda mais.

Confira abaixo cinco desfiles da PFW:

LOUIS VUITTON

Havia algo acontecendo no final do arco-íris da Louis Vuitton, projetado no piso da passarela. Ladeada por celebridades de todas as categorias, algo ali no ambiente parecia se ajeitar para uma grande abertura. A primeira parte da coleção veio em um  tom de branco imaculado, como um rito de passagem anunciando o caminho ainda não percorrido por Virgil Abloh, o novo designer contratado. A paleta logo abriu espaço para os terrosos, passeando pelos ocres e finalizando em peças monocromáticas tingidas, em separado, com cada uma das cores do arco íris. Considerando o background de Abloh na Off White, o esportivo não veio explícito, como se esperava. Ele recorreu ao utilitarismo e minimizou a logomania das coleções passadas possibilitando uma curva de caráter minimal do sportswear para a alfaiataria. Na edição do desfile, coletes de esgrima, suéteres com bolsos grandes e jaquetas matelassadas abriram caminho para paletós desconstruídos, calças com pregas e suéteres felpudos. A Dorothy de Judy Garland foi representada  em um jardim na camisa transparente, enquanto personagens de Oz davam as caras em moletons de plush. Ao final da apresentação, um modelo encarnou o homem de lata numa capa laminada onde se lia “siga a estrada de tijolinhos amarelos”. Abloh não pareceu intimidado pela Vuitton, pelo contrário, parecia entoar o mantra da própria Dorothy: “não há lugar como nosso lar.”

MAISON MARGIELA

Nessa temporada, a sensualidade masculina entrou para o centro cirúrgico. Na mesa de corte entre o que fica e o que deve ser extirpado, os códigos de gênero foram manuseados com outra intensidade. Galliano já foi parte dessa frente no passado e, agora, na era da fluidez de gênero, ele engata uma nova contribuição: trata-se da primeira coleção de Alta-costura para homens em 30 anos de existência da Maison Margiela. E não é como se ele estivesse trazendo garotos em vestidos, a estratégia de Galliano vai além, utilizando as estruturas do fazer Couture para chegar a novas camadas do masculino. Nessa linha, emergem os corsets, as jaquetas de tweed encurtadas, os conjuntos de alfaiataria engolidos por malhas transparentes, os modelos andrógenos em peças de látex. Há também o aceno de um longínquo Galliano em peças que flertam com vestes de toureiros e motivos orientais. Esses elementos logo são pulverizados em reconfigurações mais ao esperado da Margiela. Mais uma prova de que a fusão da marca belga com o estilista britânico está gerando pontos altos, estação pós estação.

ALEXANDER MCQUEEN

“A alfaiataria constitui a espinha dorsal desta coleção”, disse Sarah Burton no backstage do desfile. De fato, a McQueen adquiriu muitas outras faces depois da morte de seu fundador. Muitas delas, apenas levemente tensionadas. A impetuosidade, como se vê, ficou no passado da marca. O que sobrou desse passado, indissociável do espírito McQueen, permanece sendo alfaiataria. “Eu sinto que McQueen é sempre sobre uma narrativa, é sobre uma beleza, uma elegância, uma crueza: uma escuridão e uma luz. Não é sobre streetwear”. E bem se viu, Sarah Burton foi buscar inspiração no artista Francis Bacon e no fotógrafo John Deakin, na época em que ambos moravam no soho dos anos 1950, numa Grã-Bretanha onde a homossexualidade era ilegal. Por isso, a violência e a dor dos quadros de Bacon pintavam paletós e jaquetas de couro — às vezes pintavam o corpo inteiro, como se o modelo tivesse saído de um festival indiano. As cores de seu ateliê também invadiram tricôs destruídos e encharcaram capas tão vivas quanto sangue. Coube aos registros da câmera de Deakin instaurar a dualidade como assunto. As faces da escuridão e da luz surgiam em trench coats recortados e conjuntos de blazer e calça em preto e branco. O dandy da McQueen pode ser Tom of Finland, se isso lhe apetece.

RAF SIMONS

Nessa temporada, Raf Simons retornou a Paris para apresentar a coleção masculina. Sair do pragmatismo americano da big apple, onde é diretor criativo da Calvin Klein, para embarcar em direção a uma cidade tão caprichosa a ponto de ser conhecida como cidade-caracol, teve um propósito, uma reação inevitável contra o streetwear. “Nós precisamos disto! Precisamos de um novo esboço. Eu sei que eu era parte disso, mas muitos moletons com capuz? Você sabe, algo precisa mudar ”, disse Simons. Por isso, ele olhou para a Alta-costura. Mirou também nas combinações de cores que Yves Saint Laurent fazia. O resultado foi uma coleção toda composta por alfaiataria em cetim duchesse. Os anos de Couture na Dior respingaram em peças que misturavam alfinetes de segurança, tachas e couro preto, num punk difícil de ser rastreado, quase como um punk de luxo, recém condecorado pela rainha.

DIOR HOMME

Christian Dior estava lá. Em todos os cantos e nuances, havia um pouco do fundador da marca. Fosse pela monumental escultura dele em versão cartoon pelas mãos do artista americano KAWS. Fosse pelas abelhas, usadas nas coleções de Alta-Costura nos anos 1950. Fosse pela onipresença de rosas — grande fascinação de Monsieur Dior. Ou ainda pelos padrões toile de Jouy imitando o papel de parede da primeira boutique da casa francesa, em 1947. Fosse o que fosse, a apresentação de estréia de Kim Jones foi, acima de tudo, um tributo. Não havia rastros do elogiadíssimo trabalho esportivo que ele realizou na Louis Vuitton. A inspiração ali era o fazer da própria Alta-costura. O desejo de retomar algo não apenas feminino (apesar de Jones ter revisitado apenas os arquivos femininos da marca), mas algo romântico. Nas camisas transparentes usadas abertas, tons diluídos clássicos da temporada encontravam blazeres de abotoamento único deslocado — lembrando a parte de cima do new look. As peças de alfaitaria possuíam cortes espertos e foram ganhando aderência mais selvagem e cinquentista com a entrada de jaquetas perfecto desbotadas. As bermudas caqui vinham oversize e acompanhavam daddy shoes em modelos de cabelo lambido. Florais iam por baixo de jaquetas plastificadas e terminavamm em macacões de alfaiataria. Ao final do desfile, jornalistas aclamavam a coleção como Dior, e não Dior Homme. Kim Jones foi certeiro.

 

 

 

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