QUEER E A CÂMERA: NA CONTRAMÃO DO CONSERVADORISMO

QUEER E A CÂMERA: NA CONTRAMÃO DO CONSERVADORISMO

1 de dezembro de 2016 Arte, No Radar 0
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Paris is Burning

Dia 28 de novembro em BH encerrou-se um evento de cinema que vem fazendo história no país. O Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte tem 20 anos dedicados a apresentar uma visão descolonizada e corajosa da cultura e do cinema documentário contemporâneo, justamente aquele que acontece fora dos holofotes do grande circuito.

Mais conhecido como Forumdoc, o festival é especializado em trazer a público filmes que raramente são exibidos nas chamadas salas de arte e que, provavelmente, também não chegam ao circuito comercial.

Haviam ainda mais motivos para comemorar quando os organizadores anunciaram que esta edição seria dedicada ao cinema queer. Ou melhor, às relações que o cinema estabelece com a cultura queer.

Em se tratando do Forumdoc, definido um tema, os organizadores geralmente vão bem mais fundo do que em um mergulho rotineiro. Além da curadoria cuidadosa, com filmes que recompõe o histórico e as particularidades da cena queer, ocorreu ainda um seminário durante o festival.

De Derek Jarman exibiram Blue. O filme é um desnudamento do estado físico e espiritual do diretor durante sua luta contra a Aids. Jarman faleceu em 1994.

Do canadense Bruce La Bruce o Forumdoc selecionou No Skin Off My Ass, história de um cabeleireiro que  se apaixona por um skinhead.

Nicolás Videla e Camila José Donoso apresentaram Naomi Campbel, história da transsexual Yermén que vive em Santiago, no Chile, e sonha em mudar de sexo e em se parecer com a modelo inglesa, enquanto luta para financiar seu projeto.

Entre os filmes nacionais André Lage mostrou Os Leões, retrato íntimo de um casal argentino marginal, da travesti Mariana Koballa e de seu companheiro Raúl Francisco. De uma forma realista e poética, o documentário acompanha o cotidiano do casal durante um ano e revela seu humor frente a situações dramáticas.

Vale a pena citar a participação dos artistas Luiz Roque, brasileiro, e do colombiano Carlos Motta. Ambos tem obras expostas na 32ª Bienal.

Roque apresentou Heaven na Bienal e no Forumdoc. O filme é uma ficção e se passa em 2050, quando os órgãos de saúde descobrem um novo vírus transmissível pela saliva humana que afetaria diretamente a população transgênero.

Motta apresenta uma trilogia de 2013.

A Visão dos Derrotados investiga a imposição de categorias epistemológicas europeias sobre as culturas indígenas durante e após a conquista das Américas, com ênfase na construção da sexualidade e do gênero. Trata-se de um experimento especulativo sobre os modos pelos quais os grupos indígenas podem ter vivido o homoerotismo.

Em Nefandus, dois homens descem o rio Don Diego de canoa em Sierra Nevada de Santa Marta, no meio do Caribe colombiano. Os homens, um indígena e um hispanófono, contam histórias sobre pecados e atos de sodomia que ocorreram nas Américas durante a conquista.

Naufragios conta a história de Luiz Delgado, um desafortunado sodomita português do século XVII cuja vida foi marcada por inúmeras condenações, em Portugal, Brasil e Angola. O filme aborda o modo como o homoerotismo desafiou a ordem e os valores das sociedades coloniais.

Vai aí o trecho de um texto que abre o catálogo de filmes da mostra.

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“Nos campos de concentração nazistas, os homossexuais foram marcados com um triangulo rosa e invertido, assim como os judeus com a Estrela de Davi. Nos Estados Unidos dos anos 1970, o símbolo, subvertido por alguns ativistas, passava a figurar de pé, em sinal de apoio a luta por direitos iguais que então despontava no país. No inicio da epidemia de AIDS, em 1987, um grupo de seis homens gays espalharam por Nova York cartazes com o triângulo rosa, sob um fundo preto, e as palavras SILENCE = DEATH (silêncio = morte), nome pelo qual o projeto ficou conhecido. O triângulo rosa passou de símbolo de humilhação e perseguição a signo de luta, orgulho e resistência queer.”

Para saber mais sobre esta edição e sobre outras do forumdoc acesse o site do evento.

Vai valer a pena! Ótimos textos e uma generosa documentação recheiam o site do festival.

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