Reverberações

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14 de janeiro de 2011 Arte, No Radar, Opinião 0

No começo da década passada, o artista, cineasta e fotógrafo Arthur Omar encarou uma aventura densa. Saiu do Brasil com a finalidade de resgatar alguma parte que fosse das duas colossais e milenares estátuas de Buda destruídas pelo Talibã, no Afeganistão.  O objetivo era expor estes fragmentos em uma edição da Bienal de São Paulo.

A aventura levou o artista ao coração da violência. Ele não voltou de lá com os tais fragmentos, mas com registros fotográficos do povo e do país em cenários desenhados pela insensatez da guerra e do terrorismo.

Um gesto político e poético destas proporções inevitavelmente se desdobra em outros. O filme Alquimia da Velocidade, produzido em 2002 em uma zona de guerra na região central do Afeganistão, é um deles. Trata-se de um registro de uma partida de buskashi, precursor do pólo praticado com uma cabeça de bode no lugar da bola. Omar desacelera as imagens, dilata o tempo ao limite, e congela cavaleiros e animais no ar. É de uma beleza insustentável. Aquela que ele sabe tirar das coisas para as quais olha.

No final do ano passado ele lançou um livro pela Cosac Naify:

um livro-manifesto, de retorno a potência das imagens, sem medo do figurativismo, da beleza e choque das ruínas, dos rostos e olhares, colado na materialidade das coisas, paisagens, pessoas


E entrega com as próprias palavras o impacto existencial, filosófico e estético da aventura sobre ele mesmo:

São fotografias sustentadas pelo meu espanto diante do outro, pela paisagem que me impactava e me olhava, pelo tema da iconoclastia, da destruição e da representação dos corpos. O processo de convivência com as milhares de imagens que fiz nessa viagem foi tão intenso e perturbador quanto a própria Viagem ao Afeganistão. Dias, meses, semanas, quase oito anos carregando um Afeganistão dentro de mim.


Hoje, aqui no Fashion Rio, o Walter Rodrigues desfilou nova coleção. O que uma coisa tem a ver com a outra? Walter credita ao livro do Omar a motivação para o trabalho atual. Em declarações à imprensa, ele também assume uma revisão dos processos pessoais e  do percurso profissional, dimensionando a relação com o métier em patamar pouco usual. Como foi dito lá atrás, um gesto poético inevitavelmente deflagra outros.

(A imagem com talibãs posando com restos do Budha não é do Arthur Omar. Nem a do Walter, que é da Agencia Fotosite. As outras sim.)

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eduardo:

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