SMOGCOUTURE: poluição e mercado na China atual

SMOGCOUTURE: poluição e mercado na China atual

21 de maio de 2015 Moda 0

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A pessoa que “vê” o ar (sim, o ar é visível) de uma das grandes cidades chinesas imediatamente começa a torcer para que a teoria do aquecimento global não seja verdade. Infelizmente esse não é o caso e a poluição se constitui em um dos maiores, senão o mais crítico, desafios da China na atualidade.

A China é fantástica em muitos aspectos: a cultura, as pessoas, o crescimento econômico, a gastronomia, a arte contemporânea e a enorme profusão de coisas novas, interessantes e sempre em grande escala. O país cresceu muito e rápido demais. A sensação (e boa parte da realidade) é de que tudo o que existe em termos de economia surgiu nos últimos 20 ou 30 anos. Foi quase instantâneo e algumas coisas ficaram para trás. O meio ambiente é um desses casos em que o mindset ainda não chegou ao século XXI.

Dizer-se que a degradação ambiental é um preço que a China está pagando por seu desenvolvimento não é de todo errado, mas parte da ideia de que existe algo que pode ser pago. Quando falamos em meio ambiente, porém, não há preço, apenas consequências. Convenhamos, o que não faltam são consequências visíveis até ao menos consciente dos viajantes: smog, rios que borbulham, ausência da ideia de separação do lixo, tudo aliado a um consumo desenfreado (assunto sobre o qual já tratei no post “Mudanças estruturais no Comportamento de Consumo da China

A China é, desde 2007, a maior emissora de gases causadores de efeito estufa, ultrapassando os Estados Unidos, muito embora tenha um PIB consideravelmente menor (especialmente o PIB per capita). Ao mesmo tempo, consome metade de todo o carvão mineral extraído no mundo. Este carvão, queimado principalmente no norte do país, fornece 70% de toda a necessidade energética da China. Isso tudo faz com que, dentre as 20 cidades mais poluídas do mundo, 16 sejam chinesas e a expectativa de vida tenha diminuído 5,5 anos na região norte devido à poluição do ar e contaminação da água.

Os problemas, evidentemente, não se limitam ao carvão. As práticas agressivas se replicam em praticamente todas as demais áreas. Setores críticos como a agricultura, por exemplo, representam uma grande ameaça às reservas hídricas. Estima-se que, atualmente, 60% das águas subterrâneas chinesas estejam contaminadas.

As pressões externas e internas sobre o governo tem se intensificado. O primeiro-ministro tem constantemente falado dos desafios da China em relação à degradação ambiental. No entanto, o Estado chinês, que se mostra poderoso em relação a inúmeras outras questões, parece não ter a mesma força quando se trata de preservação ambiental. De fato, as políticas ambientais são de difícil aplicação a nível regional, pois as autoridades usualmente mantêm incentivos econômicos, ignorando as ameaças ambientais.

Lançado em março, o documentário Under the Dome (https://www.youtube.com/watch?v=T6X2uwlQGQM&t=27) trata da poluição de uma perspectiva direta e alarmante sobre os custos para a saúde e para a sociedade provenientes da degradação ambiental. Em apenas uma semana, foi visto por mais de 100 milhões de pessoas (tudo na China é em grande escala), gerou discussões por todo o país e, claro, foi tirado do ar. Sabe-se que a China tem um dos mecanismos de censura on-line mais sofisticados do mundo. O governo mantém um controle intenso sobre o que pode ser publicado, especialmente conteúdos vistos como potencialmente prejudiciais ao Partido Comunista.

Enquanto as grandes transformações não surgem, a sociedade começa a dar sinais do quanto a devastação é impactante. Dado o grande número de cidades que sofrem problemas de poluição, o mercado potencial para máscaras para filtrar o ar é – infelizmente – enorme. E tem crescido a olhos vistos. Entre as marcas mais procuradas está a 3M, cuja garota propaganda é a atleta e estrela Liu Xiang. Um gerente da marca em Xangai confirmou que as vendas de máscaras têm aumentado dramaticamente, mas se recusa a dar números temendo que isso possa constranger o governo central.

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As principais exigências dos consumidores em relação ao produto é de que sejam confortáveis e eficientes. Os estilos são muitos, além das brancas, básicas, as máscaras estão disponíveis em cores cítricas, em estampas diversas, em tecidos nobres e existem até modelos cravejados com cristais.

As passarelas também já refletem essa procupação com a poluição e a peça já é considerada um ítem de estilo. Chi Zhang, Masha Ma e Yin Peng, da QIAODAN estão entre os estilistas chineses que já desfilaram este item, hoje uma peça fundamental na vida dos chineses.

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Apesar da resistência do governo em firmar um acordo restritivo a respeito das emissões de gases do efeito estufa – indício de que a prioridade é fazer crescer a economia a qualquer custo – a China detém a maior fatia de mercado dos investimentos em energia limpa em nível mundial. Em 2009, os recursos aplicados pelos chineses nessa área ultrapassaram US$ 35 bilhões, quase o dobro da quantia investida pelos EUA (US$ 18 bilhões). A energia eólica conta com generosos subsídios governamentais, uma das iniciativas destinadas a aumentar a participação das energias renováveis para 20% da matriz energética do país até 2020.

É inegável que, quando a sociedade chinesa se une em relação a um objetivo comum, as mudanças acontecem em uma velocidade impressionante. Esperamos que uma mudança cultural em prol do meio ambiente venha o quanto antes. A situação atual está colocando o país à beira de uma catástrofe.

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