SPArte e circuito paulista das artes: um resumo improvável

SPArte e circuito paulista das artes: um resumo improvável

28 de abril de 2015 Moda 0
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Patricia Leite, Alexandre da Cunha, Rodrigo Matheus

A SPArte atrai galeristas do mundo inteiro, artistas de todos os calibres, compradores de contas bancárias modestas e estratosféricas além, é claro, de milhares de curiosos. Para todo este diversificado público o mês de abril foi intenso. Em torno da feira, São Paulo abrigou dezenas de mostras com brunchs e coquetéis pipocando pelos quatro cantos da cidade. Para visitar os stands no prédio da Bienal, só com disposição para caminhar quilômetros. Como comparativo, imagine a visita a um mega shopping, andar por andar, loja por loja, sem edição por segmento. Afinal de contas, cada centímetro do espaço estava supostamente recheado de algo que valia a pena ser visto, pressuposto que tornava a visita minuciosa e exaustiva. Nem tudo era assim uma preciosidade na SPArte, mas boa arte também foi servida lá. É uma tendência nas feiras de arte abrir espaço para mostras curadas, cumprindo um papel mais cultural que de mercado (Ou seria tornando a instância cultura cada vez mais uma responsabilidade do mercado?). Seja como for, éramos brindados em alguns momentos com a oportunidade de ver várias obras de um mesmo artista, quase como se estivéssemos em uma galeria ou espaço institucional. O quarto andar, recheado de instalações e com espaço para performances, batizado de Open Plan, era um bom exemplo destes espaços “culturais” da feira e um contraponto à montagem mais apertada dos outros andares.

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Bienal, Mario Cravo Junior, Luis Camnitzer, Leda Catunda, Piero Manzoni, o Sesc Pompéia, o convite

No térreo, na Solo, reunião de projetos individuais curados pelo Rodrigo Moura (Inhotim), doze espaços garantiam uma visita digna ao universo dos brasileiros Mario Cravo Júnior, Augusto de Campos, Montez Magno e Almandrade, entre outros locais e estrangeiros. Mais uma contribuição rara foi dada pela Alexander Grey Associates. A galeria trouxe uma extensa apresentação individual do artista Luis Camnitzer. Um luxo cultural.

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Piero Manzoni

Bem ali do lado, no MAM, mostra histórica de Piero Manzoni. Pequena, exata e outro luxo, este coroado pela suprema irreverência da Merda D´artista.

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Augusto de Campos, Debora Bolsoni, Berna Reale, Willys de Castro, Athos Bulcão

A inclinação por projetos investigativos e documentais felizmente não se limitava à feira. Outro espaço comercial, a galeria, também têm se dado ao luxo do aprofundamento na obra de um artista. Sai de cena a reunião de peças vendáveis e entra o todo da coisa, com direito à pesquisa extensa e exibição de obras que nem estão á venda. Foi o caso da mostra de Willys de Castro na Almeida Dale. Curada pela Denise Mattar, era uma das melhores do circuito oferecendo um painel consistente da obra deste artista sofisticado.

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Anselm Kiefer

As dramáticas pinturas de Anselm Kiefer pareciam não caber no amplo galpão da White Cube. O visitante quase dobrava os joelhos diante delas. No Sesc Pompeia era possível ver Marina Abramovic em momento de institucionalização da carreira e do mito. Depois de décadas batendo de frente com a inércia do mundo ela mais que merece.Tirei os sapatos e me assentei com todo respeito debaixo dos cristais que ela encontrou em Goiânia.

Para completar, três preciosos painéis de Athos Bulcão na Nara Roessler, galeira que também tinha fotos novas de Cao Guimarães. Rodrigo Matheus e Leda Catunda, estavam cada um em um dos espaços da Fortes Vilaça, Patricia Leite abriu na Mendes Wood, Alexandre da Cunha na Luisa Strina, Benvenuto Chavajay na Pilar, retratos selecionados por Ricardo Sardenberg na Sig Bergamin, Debora Bolsoni na Jaqueline Martins, Sean Scully na Pinacoteca e vai por aí. Lista quase interminável, grande demais para uma pessoa dar conta dela.  Em dia ensolarado, e com o mesmo motorista de táxi, bem que tentei. Percorri 14 galerias da cidade. Loucura, alguém vai dizer. É é mesmo.

Os projetos curados, as instituições e as galerias, que aproveitam a movimentação da feira para realizar mostras, tentam dar uma face ao momento, estabelecer algum recorte, mas feiras são ajuntamentos desconexos e caóticos, sejam elas de arte, moda ou automóveis. Seria este o mal delas. Ou, talvez, as grandes feiras, celebrando o poder do mercado sobre todas as outras forças, e com tudo aquilo de contraditório que se movimenta dentro e em torno delas, é que ofereçam um espelho real, sem retoques, do momento da cultura.

Imagens: Radar. Capa: Daniel Buren

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