Terceiro dia de SPFW
Terceiro dia balanceado entre veteranos e novos, entre pesos pesados e aspirantes a um lugar sob o holofote fashion.
Com mais ingredientes que de costume Gloria apresentou coleção multifacetada, com referências à geometria de Sonia Delaunay nos vestidos leves em composições entre áreas de cor e transparência. Ela também avançou sobre a alfaiataria, manipulando feminino e masculino de maneira equilibrada e particular. Prolixa nas citações, mais que na forma, como é de costume, ela cita o Instagram, adota estampas e bordados com imagens vegetais, belos skylines urbanos e mostra fôlego em soluções múltiplas e inventivas de modelagem aplicadas a materiais como georgete de seda, lã, sarja de algodão, couro, veludo e gazar.
Se vale a opinião, este é um dos melhores trabalhos do Herchcovitch nos últimos tempos, recheado de estranhezas sutilmente ocultas sob a beleza aparente. Com mistura dosada para encantar e desconcertar, ele faz opções bem definidas, trabalhando com assimetria e volumes de maneira a ensaiar lampejos de desconstrução, logo redefinidos pela graça do conjunto. As silhuetas têm algo de couture dos anos 50, e os cortes “impróprios” carregam a assinatura afiada de um criador de veia experimental. A edição é outro acerto, evoluindo de looks lisos para estampados florais e pendulando entre shapes retos e volumosos.
Com um painel de looks desejáveis e comerciais, e sem escorregar para o banal, a Maria Garcia desenhada pela Kekka Torello é mesmo assim: “uma coleção real” como afirmou a própria estilista. A variação entre proporções, cortes e materiais sugere mesmo uma coleção que pode chegar inteira à loja e de lá migrar com desenvoltura para as ruas. Os motivos florais reforçam essa empatia. De toda forma, não é o apelo fácil que define a roupa, mas sim o trato sensível com as matérias primas, a elegância sutil da modelagem e a supervisão, sempre refinada, do olho experiente da Clo Orozco.
É apenas a segunda vez que ele entra no line up da SPFW, e se já não parecia intimidado na primeira, parece menos ainda nesta. Vitorino Campos tem apenas 24 anos e um gosto evidentemente formado pela economia de elementos e pela boa qualidade do corte e da costura. Não é um regente dos excessos, o rapaz, e confirma a inclinação com citações que falam de “Conexões para uma única direção”, do Deserto do Silêncio, localizado no México e do livro “Eram os Deuses Astronautas”, este último respondendo pelo aproach futurista dos looks prateados.
Ninguém fica inteiramente pronto, evidentemente, mas, no caso da coleção apresentada por R. Rosner são visíveis os pontos de indefinição. O gosto pelo luxo, expresso nas superfícies inteiramente bordadas, por exemplo, aparece mesclado com a busca por algo usável ou mais jovem. É o caso da pedraria esfuziante e excessiva aplicada sobre calças de corte reto, que seriam inexpressivas sem a presença do decor exagerado. É esperar para ver se a mistura de fascínio pela exuberância com a irreverência contemporânea encontra um ponto de equilíbrio, ou quem sabe mesmo, um desacerto mais estimulante.
Com uma proposta de inverno que cabe na medida para o Brasil a Forum passou clara e leve, forrada de estampas com motivos tropicais, rendados tipo cestaria, palha e ráfia. A marca se mostra decidida a olhar de frente para as referências brasileiras também na estação do frio. Para contrabalançar, tem também lã com seda, seda pura, musseline, bons casacos explorando variações de volume e vestidos francamente sixties, ora retos, ora em A, a maioria bem curto como era regra na década citada. A cartela também acompanha o veranico da Forum, toda ela em branco, tons de vermelho, verde e rosa claro.
Imagens Agência Fotosite e acervo Radar.
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