Tropa de Elite 2

Tropa de Elite 2

24 de outubro de 2010 Arte, No Radar 0

É cinema, é ficção, mas, além de entretenimento competente, Tropa de Elite 2 é o filme certo na hora certa, e o que ele apresenta é mais consistente e crível que tudo que nos falaram até agora os dois candidatos à presidência do país. Logo nas primeiras cenas, a câmara sobrevoa Bangu 1. Ao final ela vai sobrevoar Brasília, e a essa altura o recurso apenas reforça o que o diretor já conseguira ao longo da projeção: unir os pontos soltos de uma das tramas tortas que desenham o Brasil de hoje.

Nesta segunda aventura do Capitão Nascimento, o José Padilha desenvolve roteiro hábil, e coloca em cena uma galeria de estereótipos nacionais, que ele ajusta e nos devolve bem mais complexos. No embalo da boa trilha passam por essa lente reguladora o traficante armado da favela carioca, peça letal, mas pequena na engrenagem dos interesses do poder público, a aversão do intelectual de esquerda pelo policial e vice versa, e uma complexa galeria de entendimentos, ou falta deles, do que é ética política e policial. Só os corruptos e assassinos são claros, atropelando tudo que fica entre eles e as pilhas de dinheiro, as mulatas gostosas e as grandes lanchas brancas cruzando a baía de Guanabara.  Na trama de Padilha, é o apetite por votos, estes que os atuais presidenciáveis disputam de forma tão constrangedoramente encenada e marketeira, o verdadeiro combustível para o crime organizado.

O filme tem ainda outro trunfo poderoso, o capitão de polícia interpretado pelo Wagner Moura. Ele é o herói que nos cabe nas mitologias do século XXI. Triste e grave, o melhor personagem produzido pela recente cinematografia brasileira busca regular o caos atirando e dando porrada, e acaba por humanizá-lo é nas cenas em que tenta desesperadamente ser pai, ou que aparece sozinho, recortado contra o fundo do apartamento  suburbano.

A sala em que assisti Tropa de Elite 2 estava cheia. Apesar dos cadáveres e palavrões empilhados ao longo do filme, permaneceu dessa forma até o fim. O Brasil está aprendendo a se ver, foi o que pensou meu lado mais otimista enquanto descia pela escada rolante flutuando no cheiro químico da pipoca de shopping. Imagens: papel de parede do filme, Capitão nascimento e o filho no tatami e o Cap. Nascimento de arma em punho.

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0 Comments

  1. Daniel

    16 de dezembro de 2010
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    O filme foi realmente bem produzido e a história tem conteúdo, e que conteúdo! Principalmente, acho que ele foi feliz em mostrar, para desgosto talvez de quem tenha amado o primeiro filme, que o verdadeiro enfrentamento do problema social brasileiro não é aquele feito pela ação policial, mas sim em tudo aquilo que nos cabe no campo da política.

  2. Martin Gietz

    9 de janeiro de 2012
    Responder

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